A tradição cumpriu-se mais uma vez. A 1 de janeiro de 2014 a sala grande do Musikverein em Viena, acolhia mais um Concerto de Ano Novo, o segundo com o maestro de origem argentina Daniel Barenboim à frente à Orquestra Filarmónica de Viena, num acontecimento que, através da televisão, chegou a audiências na ordem dos 50 milhões de espectadores (em mais de 70 países). Agora, cumprindo-se a outra parte da tradição, chega a disco o registo desse mesmo concerto em formato de CD duplo. A 4 de fevereiro estará disponível o Blu-ray. E, tal como sucedeu no ano passado, também haverá edição em vinil.
Apesar de uma ideia comum (que conta já com décadas de vida) de concentração de grande parte do programa em peças – sobretudo valsas e polkas – de compositores da “dinastia” Strauss, cada ano acaba por marcar o respetivo concerto com escolhas especiais que se devem ou ao calendário em questão ou ao maestro convidado para dirigir a orquestra.
E se em 2013 Franz Welser-Möst integrou no alinhamento referências aos bicentenários de Richard Wagner e Giuseppe Verdi, este ano Barenboim sublinhou a presença da música de Richard Strauss, de quem se celebram em 2014 (em concreto a 11 de junho) os 150 anos do seu nascimento. Dele ouviu-se o interlúdio Mondsceinmusik, da ópera Capriccio, peça que nunca antes havia sido interpretada num destes concertos de ano novo em Viena. Clemens Hellsberg, presidente da Filarmónica de Viena, recorda no booklet deste disco o momento da estreia, em 1942, da ópera da qual este elemento do alinhamento do concerto foi retirado, lembrando que, “numa altura em que o mundo estava a ser destruído pelo fogo sob uma das ditaduras mais cruéis da história humana, o compositor-líder do seu tempo foi capaz de destilar nostalgia, resignação e saudade dos seus contemporâneos num interlúdio orquestral que transcende o fenómeno físico do luar e expressa o mesmo espírito de despedida não sentimental que transfiguraria as suas Quatro Últimas Canções”, que apresentaria poucos anos depois.
A presença de Barenboim agiu também sobre o programa apresentado. A sua ligação com a West-Eastern Divan Orchestra, que ele mesmo fundou com Edward Said em 1999, e integra músicos israelitas e do mundo árabe, levou ao concerto deste ano uma série de peças que, segundo o presidente da orquestra, simbolizam a “esperança da construção de pontes na difícil estrada do entendimento”. A direção de Baremboim neste concerto reforçou ainda mais a mensagem de paz que este veiculou pelo facto de 2014 assinalar ainda o centenário do início da I Guerra Mundial.
O concerto, que este ano procurou celebrar assim a paz universal, começou nos tempos de uma Europa em guerra, a 31 de dezembro de 1939, com um programa integralmente feito de peças de Johann Strauss – muitas vezes referido como Johann Strauss II (1825-1899). Em 1940 não se realizou e, a partir de 1941 tomou a data do primeiro dia do ano como palco para uma tradição que foi crescendo, juntando a ideia de fazer um encore a partir de 1945 e terminando quase invariavelmente com O Danúbio Azul de Johann Strauss II (integrada no programa a partir de 1967) e a Marcha Radetzky, de Johann Strauss I (desde 1946). Esta última foi pontualmente excluída em 2005 por Lorin Maazel, pelo respeito para com as vítimas do devastador tsunami então ocorrido no sudeste asiático.
Apesar de uma ideia comum (que conta já com décadas de vida) de concentração de grande parte do programa em peças – sobretudo valsas e polkas – de compositores da “dinastia” Strauss, cada ano acaba por marcar o respetivo concerto com escolhas especiais que se devem ou ao calendário em questão ou ao maestro convidado para dirigir a orquestra.
E se em 2013 Franz Welser-Möst integrou no alinhamento referências aos bicentenários de Richard Wagner e Giuseppe Verdi, este ano Barenboim sublinhou a presença da música de Richard Strauss, de quem se celebram em 2014 (em concreto a 11 de junho) os 150 anos do seu nascimento. Dele ouviu-se o interlúdio Mondsceinmusik, da ópera Capriccio, peça que nunca antes havia sido interpretada num destes concertos de ano novo em Viena. Clemens Hellsberg, presidente da Filarmónica de Viena, recorda no booklet deste disco o momento da estreia, em 1942, da ópera da qual este elemento do alinhamento do concerto foi retirado, lembrando que, “numa altura em que o mundo estava a ser destruído pelo fogo sob uma das ditaduras mais cruéis da história humana, o compositor-líder do seu tempo foi capaz de destilar nostalgia, resignação e saudade dos seus contemporâneos num interlúdio orquestral que transcende o fenómeno físico do luar e expressa o mesmo espírito de despedida não sentimental que transfiguraria as suas Quatro Últimas Canções”, que apresentaria poucos anos depois.
A presença de Barenboim agiu também sobre o programa apresentado. A sua ligação com a West-Eastern Divan Orchestra, que ele mesmo fundou com Edward Said em 1999, e integra músicos israelitas e do mundo árabe, levou ao concerto deste ano uma série de peças que, segundo o presidente da orquestra, simbolizam a “esperança da construção de pontes na difícil estrada do entendimento”. A direção de Baremboim neste concerto reforçou ainda mais a mensagem de paz que este veiculou pelo facto de 2014 assinalar ainda o centenário do início da I Guerra Mundial.
O concerto, que este ano procurou celebrar assim a paz universal, começou nos tempos de uma Europa em guerra, a 31 de dezembro de 1939, com um programa integralmente feito de peças de Johann Strauss – muitas vezes referido como Johann Strauss II (1825-1899). Em 1940 não se realizou e, a partir de 1941 tomou a data do primeiro dia do ano como palco para uma tradição que foi crescendo, juntando a ideia de fazer um encore a partir de 1945 e terminando quase invariavelmente com O Danúbio Azul de Johann Strauss II (integrada no programa a partir de 1967) e a Marcha Radetzky, de Johann Strauss I (desde 1946). Esta última foi pontualmente excluída em 2005 por Lorin Maazel, pelo respeito para com as vítimas do devastador tsunami então ocorrido no sudeste asiático.
Clemens Krauss foi quem dirigiu o concerto de 1939, bem como as edições entre 1941 e 45 e entre 1948 e 54. Willi Boskovsky fez tradição entre 1955 e 79, ao que se seguiu um mais breve consulado de Lorin Maazel, de 1980 a 86 (regressando mais quatro vezes depois). A partir de 1987 foi criado um modelo de troca anual de maestro, com Herbert Von Karajan a abrir a nova etapa. Para 2015 está já decidido que a batuta caberá a Zubin Mehta, naquele que será o seu quinto concerto de ano novo.