domingo, fevereiro 02, 2014

Philip Seymour Hoffman (1967 - 2014)

FOTO: Dan Busta
Oscarizado pela sua interpretação de Truman Capote, no filme Capote (2005), afirmou-se como um dos mais brilhantes actores americanos da geração revelada no começo da década de 90: Philip Seymour Hoffman foi encontrado morto no dia 2 de Fevereiro, no seu apartamento, em Greenwich Village; de acordo com as primeiras informações divulgadas pela polícia, terá sido vítima de overdose — contava 46 anos [video: BBC].


Nascido em Fairport, Nova Iorque, envolveu-se desde muito cedo com as artes da representação, tendo estudado na Tisch School of the Arts. O que quer dizer também que toda a sua formação — e carreira — mantém íntimas ligações com o espaço específico do teatro. Foi, aliás, um dos fundadores da companhia Bullstoi Ensemble, com Bennett Miller (que, mais tarde, o viria a dirigir em Capote).
Mesmo discretos, os seus primeiros papéis revelam uma energia e uma versatilidade invulgares — lembremos os casos de My New Gun (1992), de Stacy Cochran, magnífica “comédia-drama” da área independente, ou Perfume de Mulher (1992), de Martin Brest, o filme que deu o Oscar a Al Pacino (Hoffman interpretava o colega da universidade que fazia a vida negra à personagem de Chris O’Donnell). A partir daí, pode dizer-se que a qualidade da sua trajectória profissional se define através da importância e, sobretudo, da complexidade das personagens que é chamado a interpretar. Lembremos apenas alguns momentos emblemáticos:
* Jogos de Prazer/Boogie Nights (1997), primeiro encontro com Paul Thomas Anderson, assumindo uma personagem do meio da produção de cinema pornográfico em finais da década de 70.
* State and Main (2000), deambulação sarcástica pelos bastidores de uma produção cinematográfica (interpretando o angustiado argumentista), numa notável mise en scène de David Mamet.
* Quase Famosos (2000), por certo uma das suas composições de mais elaborado desencanto romântico: um crítico de música rock, inserido numa evocação eminentemente pessoal de Cameron Crowe.
* A Última Hora/The 25th Hour (2002), de Spike Lee, uma das primeiras obras-primas do séc. XXI, com Hoffman a desempenhar uma das figuras que gravitam em torno da personagem trágica interpretada por Edward Norton.
* Antes que o Diabo Saiba que Morreste (2007), derradeira e prodigiosa realização de Sidney Lumet, viagem moral sobre a ambivalência dos laços familiares, com um elenco que inclui ainda, entre outros, Ethan Hawke, Albert Finney e Marisa Tomei.
No ecrã, Philip Seymour Hoffman impôs-se como uma dessas presenças que se define por uma vibração com tanto de transparente como de indecifrável, afinal relativizando todas as certezas correntes sobre as razões do comportamento humano. Foi, por certo, um dos mais legítimos herdeiros dos monstros sagrados do arranque da modernidade em Hollywood — Marlon Brando, Montgomery Clift, Warren Beatty, Jack Nicholson, Al Pacino... Para a história, lembremos que, além do Oscar de melhor actor por Capote, recebeu ainda mais três nomeações da Academia de Hollywood (todas na categoria de actor secundário): Jogos de Poder (2007), de Mike Nichols, Dúvida (2008), de John Patrick Shanley, e The Master/O Mentor (2012), de Paul Thomas Anderson.

>>> 5 de Março de 2006: Philip Seymour Hoffman recebe o Oscar de melhor actor, por Capote.


>>> Obituário: New York Times + Le Monde.