Três grandes estúdios de Hollywood vão deixar de ter representação directa no mercado português: fonte da companhia informou que a Columbia TriStar Warner Filmes de Portugal, Lda. vai fechar os seus escritórios, pondo fim a uma presença comercial de décadas.
300: O Início de Um Império, com estreia agendada para 6 de Março, será o derradeiro título que a empresa vai lançar nas salas. O Fantástico Homem-Aranha 2: O Poder de Electro, "blockbuster" da Columbia, marcado para 17 de Abril, já deverá ser distribuído por outra entidade. É de prever que os títulos dos três estúdios envolvidos passem a circular através de outros canais de distribuição mas, para já, não há informações sobre o assunto.
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O que é um espectador?
> Que vai acontecer aos filmes da Columbia/Sony Pictures, da sua divisão TriStar e ainda da Warner Bros. no mercado português? A notícia do abandono dos três estúdios tem tanto de desconcertante como de revelador. Desconcertante porque, apesar de tudo, as estratégias globais a que obedece o cinema made in USA sempre souberam sustentar os pequenos investimentos (e países) como elementos indissociáveis da sua visão planetária; revelador porque, em boa verdade, há muito tempo que o mercado português deixou de ter uma visão coesa, não apenas para lidar com o poderio americano, mas sobretudo para não banalizar as suas especificidades internas.
> Não é fácil discutir tudo isto. E não apenas porque a complexidade do que está em jogo exige que comecemos por reconhecer os nossos limites — ninguém tem (eu, pelo menos, não tenho) uma solução mágica para contrariar o enquistamento do mercado que, agora, se traduz, neste insólito vazio. Mais do que isso: seria grosseiro e demagógico (eu, pelo menos, recuso seguir essa via) lidar com o assunto através da mais cega demonização artística de Hollywood que, desde o 25 de Abril, sempre teve muitos adeptos mais ou menos militantes e ideologicamente sectários.
> Acontece que no mercado — com excepções e desvios, sem dúvida — se foi instalando na ideia (?) segundo a qual o consumo do cinema passou a ser uma actividade "jovem", para a sustentar bastando repetir até à náusea os mesmos modelos de difusão e promoção, invariavelmente apoiados em conceitos de marketing programados a partir de uma conceito descartável, sem qualquer base social ou conhecimento sociológico, da própria "juventude".
> O envolvimento da Columbia TriStar Warner em tal estratégia é óbvio (quanto mais não seja através de uma razoável percentagem de blockbusters das últimas décadas, ostentando, na origem, os emblemas daqueles estúdios). Em todo o caso, não seria agora que, por mim, iria começar a apontar o dedo a uma casa cujos profissionais sempre me mereceram consideração e admiração — tendo tido, e para nos ficarmos por um só exemplo, um papel significativo (a par da Midas Filmes ou da Leopardo Filmes) no recente regresso das reposições às salas escuras.
> O que está em jogo é de outra natureza. O fim desta empresa não passa mesmo de um detalhe numa conjuntura mais geral em que as lógicas dominantes do mercado deixaram de saber responder à pergunta: o que é um espectador? Em boa verdade, deixaram de a formular. Através de tal vazio, o que se vai consolidando é uma visão instrumental e tecnocrática do público. Aliás, dos públicos, no plural — importa repensar as bases e as potencialidades de tal pluralidade.