terça-feira, janeiro 07, 2014

Uma estreia com título bem educado

Podia ser uma daquelas frases perfeitas para escrever mais um episódio da mitologia pop, mas assim aconteceu: a vontade de chamar Please ao álbum de estreia dos Pet Shop Boys nasceu da ideia de imaginar que, chegados ao balcão da loja de discos, os compradores tivessem de dizer algo como “can I have the Pet Shop Boys album, Please”?

O disco (tal como aconteceria com o segundo álbum) assenta em grande parte sobre um alinhamento que corresponde a composições que a dupla foi criando antes mesmo de editar sequer o seu primeiro single, em 1984. Sob a companhia em estúdio de Stephen Hague, as sessões assinalaram uma busca de ideias para lá dos espaços experimentados nas sessões que antes tinham registado com Bobby O, havendo contudo instantes (como por exemplo se nota em Opportunities) em que essas ligações primordiais se mantiveram mais evidentes.

Please é um álbum relativamente simples, mas definidor já de uma identidade que ainda hoje caracteriza a demanda de um grupo que gosta de partir da contemporaneidade pop e da sua relação com a música de dança, para pensar então a canção de uma forma que assim estabelece pontes entre um certo classicismo e modernidade. O disco assenta sobre eletrónicas e um evidente interesse pelas dinâmicas rítmicas atentas à dança, mas exibe já sinais claros de uma capacidade maior na escrita, que se revela sobretudo em canções como West End Girls (aqui retomada na versão regravada com Hague em 1985) ou Suburbia, canção que nasceu quase no final das sessões e que aqui é incluída numa primeira versão pouco diferente do que mostrava a maquete, meses depois uma nova mistura definindo uma visão mais “definitiva” que lhes valeria um dos seus primeiros grandes clássicos.

Please foi editado em março de 1986, poucas semanas depois de Love Comes Quickly ter reafirmado o potencial que West End Girls colocara em cena sob impacte global. O alinhamento confirmava que estava aqui um primeiro passo para um percurso de grande fôlego, deixando logo bem claro que o êxito mundial que o single West End Girls havia alcançado em 1985 não faria deles one hit wonders. Pelo contrário, uma carreira despontava ali mesmo.

A capa refltete uma proposta gráfica algo ousada e claramente pouco habitual, propondo, sob um fundo branco, uma imagem invulgarmente pequena dos músicos. Um trabalho naturalmente pensado para a idade do vinil (tanto que perde força na redução de tamanho para o formato de CD).