The Hidden Cameras
“Age”
Evil Evil
3 / 5
Há expressões que se colam a obras concretas. E com os The Hidden Cameras mal se vê um texto que não fale de “gay church folk music”, descrição que decorre de palavras do próprio Joel Gibb, o canadiano que é a alma criativa central do projeto e a sua voz. A ideia até se ajustava ao que foi em tempos uma música que partilhava uma costela ativista LGBT com uma alma folk, entregue depois a arranjos luxuriantes (fazendo do álbum Mississauga Goddam, de 2004, um paradigma na afirmação de uma personalidade demarcada que por aquela altura ganhou visibilidade maior). Dez anos depois, Age representa a expressão de busca de um novo patamar na obra do projeto. Colocando ponto final a um silêncio de cinco anos (o anterior Origin: Orphan data de 2009), o novo disco não fecha a porta ao caráter sumptuoso e maior dos arranjos que caracterizaram as suas canções nem afasta do gume das ideias as reflexões sobre temáticas centrais à obra do grupo (escute-se o belíssimo Gay Goth Scene – e o seu magnífico teledisco – para verificar que não há uma mudança de linha, apesar do alargamento do espetro de assuntos abordados entre as novas canções). Mas tal como as letras caminham entre mais temas e espaços, também a música reflete essa demanda de outros horizontes. Com sede hoje em Berlim (que é como quem diz que é ali que Joel hoje vive), os The Hidden Cameras de 2014 assinalam uma aproximação ainda maior às eletrónicas. Mas ao contrário do que nos mostrou John Grant no disco que editou em 2013, Age parece retrato de um processo de mudança ainda não plenamente arrumado. O ensaio dub de Afterparty não resulta, e o lote de composições é desigual, apenas ocasionalmente encontrando os argumentos devidamente convincentes através de uma voz própria nos diálogos que procura aqui experimentar (Doom ou Ordinary Over You são mesmo pérolas que sugerem caminhos que um episódio seguinte poderá aprofundar e melhorar).