Nasceu nas páginas da revista New Yorker em 1997, na forma de um conto assinado por Annie Proulx. Em 2005 a sua adaptação ao cinema (por Ang Lee) ganhava o Leão de Ouro em Veneza (e três Óscares no ano seguinte. Esta semana, com música de Charles Wuorinen e libreto da própria Annie Proulx, Brokeback Mountain nasceu como uma ópera no palco do Teatro Real, em Madrid.
“A ópera é sobre um caso típico de uma situação impossível, uma situação trágica. Neste caso são duas pessoas, que querem ter uma relação que, naquele lugar e naquele tempo, é proibida pela sociedade”, explicou o realizador em declarações à AFP, reforçando que este é, de resto, “um problema muito tradicional na ópera”. Tal como no conto, esta é a história de dois cowboys que, durante perto de 20 anos, vivem um romance escondido quando, nos meses de verão, retomam o seu trabalho nas montanhas do Wyoming, longe de tudo e de todos (inclusivamente das famílias que entretanto formam).
A ópera Brokeback Mountain “não é sobre o amor gay”, referiu ainda o compositor à AFP. “É sobre uma relação que se expressa através de uma paixão entre dois homens, mas que a não conseguem fruir. A personagem de Ennis é incapaz de aceitar a sua própria natureza, em aceitar-se a si mesmo e depois a tomar medidas para viver uma vida que acomode as características da sua personagem.” Wuorinen justificou que não pretendia que esta sua ópera fosse vista como uma criação essencialmente ideológica ou até mesmo como uma eventual peça de propaganda associada a um ponto de vista em particular. Queria antes expressar, através desta história, o que descreve como problemas humanos fundamentais.
Depois de ter decidido avançar com a criação da ópera, o compositor procurou quem assinasse o libreto. E não escondeu a enorme satisfação com que a própria autora do conto original se mostrou disponível. Trabalharam juntos, durante uma semana, nas montanhas do Wyoming. E depois, por e-mail, foram continuando a desenvolver a colaboração.
Em entrevista disponibilizada pelo Teatro Real, o compositor explica que há diferenças entre a ópera e o filme de Ang Lee que ganhou projeção global. “A ópera vinca a impossibilidade do amor entre estas duas personagens”, defende. Assinala que o filme tem uma fotografia que destaca a beleza da paisagem, mas explica que aquela é uma região perigosa, ameaçadora, onde se pode ser morto por causas naturais ou por outras pessoas. Wuorinen procurou por isso um caminho realista mais próximo do texto original.
Criada entre 2008 e 2012, a ópera (em dois atos e 11 cenas) terá agora uma residência no palco madrileno até 11 de fevereiro. Em palco estarão as vozes de Tom Randle (Jack Twist)e Daniel Okulitch (Ennis Del Mar), os protagonistas, juntamente com Heather Buck (Alma), Hannah Esther Minutillo (Lureen), Ethan Herschenfeld (Aguirre e pai de Lureen), Jane Henschel e Ryan MacPherson (os pais de Jack).