Beautify Junkyards
“Beautify Junkyards”
Metrodiscos / Sony Music
4 / 5
Quantas vezes há trabalhos que surgem em tempo de férias ou fora do “escritório” habitual? Há uns anos lembro-me de Björk contar que tinha partido para a Gronelândia de férias e que, poucos dias depois, tinha afixado fotocópias nas montras de lojas e de cafés propondo audições que acabariam por formar o coro feminino com o qual gravou Vespertine e, depois, com ela andou pela estrada na digressão que se seguiu. Uma história de saída dos espaços habituais dos Hipnótica acabou por gerar um outro fruto inesperado (e belo). Não terão sido exatamente umas férias. Mas depois de uma digressão, e com vontade de experimentar outros caminhos, deram por si no campo, a gravar canções em clima folk... Gostaram dos resultados e as primeiras reações recolhidas motivaram mais ainda o aprofundar das ideias. No final acabaram com um belíssimo álbum feito de versões que parte da folk, mas entende-a como experiência pessoal e de horizontes largos, abertos ao gosto pelos diálogos com outros sons e, sobretudo, à expressão de um gosto melómano que agora podemos partilhar no álbum que resultou desta aventura (que não foi coisa pessoal e é coisa para continuar). Ao projeto chamaram Beautify Junkyards e ao disco também. O alinhamento cruza memórias dos anos 60 e 70, evocando referências da folk de então como Nick Drake (belíssima a versão de From The Morning, do álbum Pink Moon), Vashti Bunyan, Bridget St. John ou Donovan, alargando o espaço de intervenção ao espaço caleidoscópico do psicadelismo com os Mutantes ou desfiando as formas com os Kraftwerk. De resto, a presença aqui de Radioactivity reforça a consciência da arte da escrita desses quatro pioneiros alemães que já se fizera notar quando nomes tão diversos quanto o Balanescu Quartet, Divine Comedy ou Señor Coconut abordaram as suas composições. Contando com um pequeno conjunto de colaboradores (entre os quais i-Wolf dos Sofa Surfers, que tem já uma história de relacionamento com os Hipnótica), mostrando nas abordagens uma capacidade se assimilar a folk e ensaiar relações discretas entre as vozes, as guitarras e as eletrónicas, o álbum Beautify Junkyards não fica atrás de algumas das boas surpresas que este comprimento de onda da música popular nos tem revelado nos últimos anos, vindos de outras paragens. Este foi, inclusivamente, o disco mais interessante que nasceu por estes lados no último ano.