segunda-feira, janeiro 06, 2014
Afinal quais são as forças que nos unem?
O que nos une mais? Os laços de sangue? Ou aqueles que o afeto (e o amor) criam pela convivência? Estes são os dois pratos na balança de Tal Pai Tal Filho, o mais recente filme de Hirokazu Kore-eda, cada vez mais um nome central no panorama do melhor que o cinema do nosso tempo nos tem mostrado.
Tal como em filmes seus que antes passaram pelo nosso circuito de salas, a família é aqui o centro de gravidade dos relacionamentos em jogo. E, tal como no magristral Ninguém Sabe (de 2004) ou no mais recente O Meu Maior Desejo (2011), a paternidade está sob o foco maior da sua atenção. Se nesse filme de 2004 que assegurou a sua estreia nos ecrãs nacionais nos mostrava a história (baseada em factos reais) de uma mãe que abandonava os seus quatro pequenos filhos num apartamento e se na sua longa-metragem anterior explorava o relacionamento de dois irmãos filhos de pais separados, desta vez coloca em cena uma narrativa de bebés trocados. Têm agora seis anos e só um teste de DNA para acesso à primária de um deles lançou o alerta. Um casal com bons rendimentos e um outro de vida remediada têm afinal os filhos um do outro, situação que decorre de um erro ocorrido no dia em que nasceram, num hospital de província. Como resolver a troca após seis anos de vidas dos filhos com os pais trocados? Começar de novo, assegurando a ligação que os laços de sangue sugere? Ou manter a família como um espaço que é antes definido pelo afeto que a convivência vai criando?
Como noutros filmes anteriores, e herdando coordenadas temáticas (não necessariamente as visuais) de um Ozu, Kore-eda faz evoluir a narrativa num ritmo plácido, integrando as rotinas caseiras num fluir dos acontecimentos, fazendo dos espaços das refeições um importante episódio da construção de uma vida em família.
Sem maniqueísmos, sem reduzir nenhum dos pais ou filhos a meros estereótipos, sem criar pingue pongues de bons e maus, procurando expor ambas as opções e quem as defende, com uma candura que não demoniza nem mesmo os evidentes equívocos que certas tomadas de decisão chegam a levantar, Kore-eda apresenta em Tal Pai Tal Filho um dos mais belos olhares sobre o poder do amor e o que, afinal, faz uma família.