segunda-feira, janeiro 20, 2014

Ir para longe (na esperança de ficar perto)


Integrou a programação do Queer Lisboa 15 e é daquelas pérolas (injustamente) ignoradas pelo panorama do circuito de salas, tal como o é peça estranhamente ausente de muitos mercados do DVD. Chama-se Miss Kicki, foi em 2009 a primeira longa-metragem do sueco Hakon Liu e merece uma oportunidade. Depois de editado no seu país de origem, há também um lançamento em DVD no Reino Unido.

Já aqui tinha escrito sobre o filme, quer por ocasião da sua passagem no festival, quer quando o DVD surgiu no mercado sueco. Na altura disse:

"Miss Kicki é uma história de (des)encontros com cenário entre a Suécia e Taiwan. Kicki (interpretada por Pernilla August)  regressa à Suécia onde reencontra o filho que não vê há anos, a sua mãe tendo garantido a sua educação. E é a pedido desta (e com orçamento assim prometido) que “convida” Viktor a uma viagem. O destino? Taiwan onde, na verdade, a meta mora no encontro real com um homem com quem mantém um romance virtual na Internet... Mãe e filho dão por si num hotel barato fora do centro das luzes e lojas. O romance esperado acaba por revelar o inesperado. E o encontro de Viktor com Didi, um jovem da cidade que anda pelas ruas com motos que pede “emprestadas” (sem que o dono o saiba, entenda-se), acabará por abrir outros horizontes a uma viagem que nada deve ao abc habitual de umas férias de mãe e filho em modo de turismo...

Apesar do jogo de semelhanças e diferenças que facilmente podemos estabelecer - pelas relações entre ocidente e oriente - com Soundless Windchime, de Kit Hung (um dos mais belos filmes a correr o circuito dos festivais de cinema quer na década dos zeros), Miss Kicki acaba por dispensar a caução das comparações. Realizado por Hakon Liu (de quem o Queer Lisboa já apresentou a curta-metragem Lucky Blue), Miss Kicki vive da força do trio de personagens centrais (Kicki, Viktor e Didi), de uma história que concilia de forma exemplar o que pode haver de estranho e familiar num cenário distante e estabelece pontes entre o ocidente e oriente e de uma absolutamente notável direcção de fotografia."

Hakon Liu trabalha de forma notável as sugestões de solidão e desencontro, mesmo quando as personagens habitam um mesmo espaço. Usa a cidade como um espaço que acentua essa solidão. E quase lembra a Viagem a Tóquio de Ozu  na sequência em que vemos mãe, filho e Didi a experimentar um requintado hotel que, mesmo em amena paisagem, não abafa os conflitos interiores que unem e dividem os três.