Sparks
“No. 1 Song in Heaven”
Repertoire Records
5 / 5
A história discográficas dos Sparks é feita de uma saudável inquietude que se manifestou numa constante busca de novos caminhos na melhor expressão da velha máxima rei morto, rei posto. Nos anos 70, depois de uma bem sucedida etapa de reinvenção em Inglaterra (da qual resultaram os álbuns Kimono in My House, Propaganda e Indiscret, entre 1974 e 75), regressaram a Los Angeles para, em busca de nova orientação, desaguar no rock polido e inconsequente de Big Beat (1976) e Introducing Sparks (1977), dois dos piores títulos da sua carreira... O eureka para a solução do problema surgiu numa entrevista. Calhou dizerem a um jornalista que admiravam o trabalho de Giorgio Moroder com Donna Summer. Acontece que o jornalista era amigo do produtor alemão. E a verdade é que algum tempo depois (algures em 1978), os manos Mael estavam nos estúdios Musicland, na Alemanha, a gravar com... Moroder. As guitarras saem de cena, relegadas para eventual presença cénica, e os sintetizadores e programações tomam conta da linha da frente da criação, o clima disco servindo de tempero ao que acabaria por ser um disco de algum peso pioneiro na criação de uma nova pop feita com electrónicas. Diferente do paisagismo mais assombrado que então surgia assinado por outros pioneiros (como os Human League ou os Tubeway Army, de Gary Numan), sem o rigor rítmico mais metronómico de uns DAF nem o ímpeto experimentalista de uns Cabaret Voltaire, os Sparks avançam com Moroder rumo a um entendimento entre a pop e o disco, com as electrónicas por ferramentas e a voz pouco contida de Russel Mael como cereja sobre o bolo. Elegante, sofisticado, mas festivo, o tema-título de No. 1 Song In Heaven dá-lhes o maior êxito desde 74 e cativa atenções para um alinhamento curto mas saboroso, que explora vários caminhos possíveis para estes ingredientes em outras canções não menos interessantes como Beat The Clock ou Tryouts For The Human Race. O disco abre a presença das electrónicas na obra dos Sparks, mas não define caminhos necessariamente seguidos nos álbuns que se lhe seguiram imediatamente. O percurso do duo teve continuação imediata no mais convencional Terminal Jive (1980), novamente ao lado de Moroder e também contando com a colaboração de Harold Faltermeyer. Na verdade, esta pérola pop de 1979 só conheceria um sucessor à sua altura apenas 15 anos depois em Gratuitous Sax & Senseless Violins, o disco que retoma as heranças aqui ensaiadas e expressa novo episódio de encantamento pela pop electrónica que, juntamente com o trio de álbuns gravados em Londes entre 74 a 75, a obra-prima Lil’Beethoven que chegaria em 2002 e, claro este Nº 1 Song In Heaven, faz o melhor da discografia dos Sparks. A nova reedição junta ao alinhamento original (de apenas seis temas) uma série de edits e remisturas da época.