Vale a pena prestar alguma atenção ao que está a acontecer no domínio do chamado lyric video. A sua vocação inicial — divulgar um tema através da respectiva letra, antes do aparecimento do teledisco oficial — tem tido uma curiosa evolução. Assim, em primeiro lugar, começaram a aparecer os versos animados, por assim dizer corporizando as significações da canção; depois, a pouco e pouco, as palavras passaram a emergir de uma cena mais ou menos elaborada, por vezes meramente decorativa, outras envolvendo insólitas ressonâncias simbólicas. Roar, de Katy Perry (do álbum Prism, a editar em Outubro), é um caso revelador pelo modo como reconhece e celebra o texto enquanto elemento teatral, lúdico e imponderável da paisagem quotidiana da comunicação — se já existe o conceito "clip-por-telemóvel", esta é, por certo, um das suas concretizações mais exemplares.