Discos para ouvir em tempo de Verão... Este texto integra a série 'Para ouvir na praia', que por estes dias tem sido publicada no DN.
Uma das mais curiosas consequências da revolução que a música de dança trouxe ao panorama da música popular em finais dos anos 80 foi um redespertar de atenções para o jazz para além dos seus circuitos mais habituais. E pouco depois de expressões como a house, acid house ou chill out saírem das suas vivências noturnas para as estações de rádio e os circuitos dos discos, as primeiras manifestações de interesse pela descoberta de diálogos com o jazz entre as novas gerações de músicos e seus ouvintes ganhou forma através de fenómenos como o acid jazz, os terrenos do rare groove (que procurava fontes de inspiração mais obscuras) e, já nos anos 90 ou os estimulantes cruzamentos com o hip hop que nos deram discos de referência de nomes como os Us3, Guru ou A Tribe Called Quest.
A verdade é que o que então se semeou deixou hábitos, influenciou novos músicos e criou públicos. E quando em finais dos anos 90 emergiu uma nova corrente de criadores de ambientes cool com eletrónicas, houve quem chamasse o jazz para alargar os horizontes da sua música. Um exemplo desse tempo pode ser recordado entre os primeiros títulos da obra do DJ e produtor belga Sven Van Hees. Editado em 1999, o álbum Gemini (o seu segundo longa-duração) é um suave festim feito de ambientes cool onde as eletrónicas desenham cenários e as formas ganham vida sob um claro piscar de olho a heranças escutadas no jazz.