1. Este foi o programa da Cinemateca Portuguesa referente a Julho de 2013.
2. Poderá ser o último. Não o último antes das férias. Mas o último de sempre. Para sempre.
3. De acordo com declarações da directora Maria João Seixas, a situação financeira da instituição é de tal forma dramática que a Cinemateca "está em risco de fechar".
4. Já não se trata de uma situação de carência de infra-estruturas que fazia (e faz) com que, por exemplo, a Cinemateca não possa passar filmes em formato DCP, hoje em dia dominante nos principais circuitos de difusão.
5. A hecatombe que Maria João Seixas admite como possível está para além das nuances da logística: a sua crueldade define-se pela dicotomia entre um país com Cinemateca e um país sem Cinemateca.
6. Escusado será lembrar que a atitude que Jorge Barreto Xavier (Secretário de Estado da Cultura) vier a assumir face a esta conjuntura terá, de uma maneira ou de outra, um fundamental valor simbólico.
7. É um valor que, mais do que nunca, importa situar para além da passagem efémera deste ou daquele governante (incluindo Jorge Barreto Xavier). Em jogo está uma pergunta linear: há algum conceito de política cultural em alguma entidade política deste país?
8. A minha resposta em relação à pergunta anterior é esta: tenho sérias dúvidas. E não quero menosprezar a dedicação e a seriedade de muitas pessoas (individuais) dos mais variados sectores de pensamento. Acontece que a classe política, como um todo, se tem distinguido por uma tristíssima indiferença face à possibilidade de fazer política cultural — e culturalmente.
9. Vivemos, afinal, num país em que os horrores afectivos e a mediocridade de pensamento da "reality TV" envenenam todos os dias o imaginário social sem que, há longos anos, isso suscite a mais básica indignação humana proveniente de qualquer sector ideológico. Não se pode esperar que quem assim se cala se interesse pela riqueza nacional que é a Cinemateca, quer como espaço de difusão, quer no seu admirável labor de conservação do património de imagens e sons.
10. Não há, por isso, razões consistentes para acreditarmos que a existência de uma coisa chamada Cinemateca seja um assunto que mobilize o comum dos nossos políticos. Nesse aspecto, as direitas e as esquerdas, europeias e anti-europeias, estão tristemente unidas na mesma indiferença — desconhecem a palavra cinefilia porque são, elas próprias, produto reciclável de uma época que, maioritariamente, desconhece o cinema como facto, património e pensamento.