domingo, julho 14, 2013

Um diálogo entre (aparentes) opostos


O Keller Quartet tem já uma relação antiga com a ECM Records, e uma discografia conjunta que passa por obras de Shostakovich, Back ou pelo próprio mentor do grupo, Kurtág. O grupo foi formado em 1987 em Budapeste presentemente apresentando na sua formação as presenças de András Keller e Zsófia Környei (violinos), Zoltán Gál (viola) e Judit Szabó (violoncelo). Neste novo disco o quarteto húngaro aborda duas referências do século XX mostrando como os diferentes (e não podiam mesmo ser mais diferentes) se podem conjugar num espaço de entendimento conjunto e, eventualmente dialogar. Estamos contudo no século XXI. E o que eram "opostos" no século passado, são agora memórias e referências com indubitável valor histórico, ambos tendo resistido ao tempo e criado descendências.

O alinhamento apresenta os dois Quartetos de Cordas de Gyorgy Ligeti (1923-2006) o célebre Adagio for Strings, de Samuel Barber (1910-1981) , numa transcrição para quarteto de cordas. A melancolia romântica e algo nostálgica que emana das notas de Barber ocupa aqui um lugar central num alinhamento que abre e fecha com Ligeti, cabendo o momento de clímax da audição ao desafiante Quarteto para Cordas número 2, cujo segundo andamento traduz uma das mais belas reflexões sobre as periferias do silêncio, ao que se segue um terceiro que explora noções de recorrência e de precisão circular e arrumada dos mecanismos circulares (como um relógio). Datado de 1968, este segundo Quarteto de Cordas chegou num momento em que a música de Ligeti começava a chegar a outros públicos, na sequência da utilização de gravações de algumas obras suas na banda sonora de 2001: Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick. Já o primeiro, de 1955, corresponde a uma etapa inicial da sua obra e corresponde a um tempo anterior à sua saída da Hungria e apresenta-se na menos vulgar forma de um andamento único dividido em 17 pequenas secções.

Quatro anos separam as duas gravações de Ligeti que definem a abertura e encerramento do disco. A primeira, data de 2007 e assinala aquela que foi uma homenagem do quarteto ao compositor húngaro desaparecido um ano antes. Nesta gravação János Pilz integrava ainda o Keller Quartet. A segunda, de 2011, assinala a mudança na formação, com a entrada de Zsófia Környei.