domingo, julho 14, 2013

'Candide' em São Carlos e vampiros em Algés

Foto: N.G.
Depois de uma temporada algo magra em acontecimentos, o Teatro Nacional de São Carlos viveu na edição deste ano do Festival ao Largo uma sucessão de momentos, o mais inesquecível chegando com um magnífico Candide, de Leonard Bernstein com a Orquestra Sinfónica Portuguesa e o Coro do Teatro Nacional de São Carlos, sob direção do maestro João Paulo Santos.

Pangloss / Martin / Cacambo Mário Redondo
Candide Mário João Alves
Cunegonde Lara Martins
Maximilian / Capitão Diogo Oliveira
Uma velha senhora Patrícia Quinta
Paquette Leila Moreso
Governador / Vanderdendur / Ragotski Marco Alves dos Santos
Alquimista / Sultão Achmet / Crook José Lourenço
Vendedor de Cosméticos / Charles Edward João Pedro Cabral
Vendedor ambulante / 1.º Inquisidor / Rei Hermann Augustus Christian Lujan
Domador de Ursos / 2.º Inquisidor / Rei Stanislaus / Croupier João Oliveira
Médico / 3.º Inquisidor / Czar Ivan Nuno Dias

Com a informalidade que a versão definitiva que Bernstein fixou em finais dos anos 80 do século XX, orquestra e cantores souberam aliar a uma cuidada interpretação da música de Bernstein o vincar do tom satírico e das valentes doses de humor que cruzam uma narrativa decidida a deitar por terra o otimismo, custe o que custar. Bem contextualizada na apresentação que precedeu a música, esta obra de Bernstein representa (como foi bem notado) uma das duas ocasiões em que a cidade de Lisboa surgiu retratada num palco de ópera. Neste caso durante um Auto de Fé, durante o qual o compositor integrou um elemento musical “local”: nada mais senão uma citação ao Malhão Malhão...

Apesar da dimensão algo tímida das legendas (e a fachada do teatro teria acolhido um ecrã maior para a sua projeção em vídeo, se necessário), Candide ganhou vida numa agradável noite ao ar livre (falo da noite de sábado, que sexta estava frente aos Vampire Weekend) e respirou as eventuais ressonâncias com o presente que são ainda mérito do texto de Voltaire que está na medula desta obra.

Há relativamente poucas temporadas o mesmo São Carlos tinha exibido Trouble in Tahiti, do mesmo Bernstein. A Gulbenkian, nos últimos tempos, passou já por duas vezes pela sua obra orquestral... Este Candide ao ar livre foi um sucesso. Que tal, pensar em trazer agora a estes lados a igualmente sublime Missa, de Bernstein?

Entretanto podem ler aqui sobre Candide, de Leonard Bernstein


Foto: Nuno Pinto Fernandes / DN
Na noite de sábado passei pelo Optimus Alive, sobretudo para ver a atuação dos Vampire Weekend. Este texto foi publicado na edição online do DN com o título 'A festa sóbria, mas eficaz, dos Vampire Weekend'.

A dúvida era natural perante o cenário de mudança que o álbum editado há poucas semanas nos revelara. Mais melancólico, menos festivo (apesar de pontuais episódios de efusiva pop), Modern Vampires of The City - que até ver é um dos mais firmes candidatos à lista dos melhores discos pop/rock de 2013 - confirmou em pleno as mudanças esperadas numa banda inteligente, ciente de que uma obra não se faz apenas num mesmo patamar de ideias. Mas como seria a expressão em palco de uns Vampire Weekend sob a égide de tão mais tranquila proposta, aparentemente coisa difícil de conciliar com a vertigem de acontecimentos que caracteriza um serão de festival (sobretudo quando parte da plateia pode ter acabado de chegar de uma atuação de uns Green Day)?...

A resposta chegou num concerto de pouco mais de uma hora em que, com alinhamento sabiamente concebido, o grupo nova-iorquino encontrou forma de, a partir dos ecos das memórias (ainda recentes) dos seus dois primeiros álbuns e de uma primeira visita a episódios mais garridos deste novo disco, sugerir um momento de pura elegância pop gourmet sem que o sentido de festa (e o apelo à dança) alguma vez se perdesse. Afinal a luz de um certo otimismo sempre caracterizou a alma do grupo desde que em 2008 se revelou ao som de Mansard Roof (estranhamente ausente do alinhamento). E foi recuperando canções pop irresistíveis como Cousins, White Sky e Cape Cod Kwassa Kwassa que deram boas vindas à multidão que transbordava da tenda em volta do palco Heineken e que fez questão de os acompanhar de fio a pavio. Só ao quarto tempo, e ao som de Diane Young, entraram no seu repertório de canções de 2013, doseando algumas mais entre um concerto que escutou sobretudo temas de Contra (2010) e momentos-chave do álbum de estreia, aqui e ali notando-se o prazer da introdução de mais vincada (mas pontual) presença de eletrónicas e sugestões de música de dança, como quem diz que, na hora da celebração, podemos contar com eles.

Do novo álbum escutou-se Unbelievers (tema para o qual rodaram um teledisco na lezíria ribatejana), Step, Hananh Hunt, Everlasting Arms e o belíssimo Ha Hey, o ambiente de facto não sendo o propício para a entrega mais silenciosa de uma plateia a alguns dos temas de um disco que pede outra disposição, outra paz, outra entrega. O concerto optou assim por adaptar o grupo ao contexto, a comunicabilidade afável de Ezra Koenig e Rostam Batmanglij assegurando uma ligação permanente com a plateia, as suas escolhas de repertório confirmando que nos Vampire Weekend continuamos a ter uma das mais recomendáveis (e interessantes) entre as bandas nascidas na pop indie do nosso século.

Conclusão: há poucos fins-de-semana assim!