quarta-feira, julho 10, 2013

Novas edições:
Camera Obscura, Desire Lines

Camera Obscura 
“Desire Lines” 
4 AD / Popstock
4 / 5

Podiam ter acabado assombrados pelo “sucesso” de Lloyd Are You Ready To Be Heartbroken e viver agora à sombra de uma canção que tinha tudo para reduzir o grupo a tantas vezes injusta estatuto de one hit wonder... Mas a verdade é que antes desse single, extraído do alinhamento do álbum Let's Get Out Of This Country (de 2006) já os Camera Obscura tinham definido as fundações de um caminho pop atento a um certo encantamento pastoral (com paisagens do norte da Europa), a sua identidade e demanda não vacilando perante o surto de atenções (sem chegar a um patamar mainstream, entenda-se) que sobre si então recaíram. Naturais de Glasgow (Escócia), cedo apadrinhados por John Peel e tendo contado com Stuart Murdoch (dos Belle & Sebastian) como produtor do seu álbum de estreia, os Camera Obscura acabaram por definir um rumo mais próximo da pop que das cenografias folk que eventualmente poderiam ter como cenário na periferia imediata dos acontecimentos, acabando até por se aproximar mais dos caminhos luminosos de bandas pop folk suecas suas contemporâneas (como os I'm Form Barcelona ou The Concretes) que com outras revelações de alma pastoral que então emergiam também pelo Reino Unido. Desire Lines, o seu quinto álbum de originais (e o segundo que editam pela 4AD, sucedendo assim a My Maudlin Career, de 2009) representa uma expressão natural de uma linha evolutiva que, sem sobressaltos, os revela hoje (com 17 anos de carreira) como um coletivo seguro do seu caminho, instrumentalmente sólido e de personalidade já bem vincada. Sem surpresas (nem as procurando senão no departamento da composição ou em narrativas ora feitas de observações mais pessoais ou de histórias vivenciais), os Camera Obscura mostram em Desire Lines os sinais de um domínio sobre uma linguagem que há muito demarcaram como sua e reafirmam uma vez mais a sua agenda em clima pop. Uma pop de travo clássico, onde as eletrónicas surgem integradas num corpo de acontecimentos maior que dá maior protagonismo à voz e às guitarras. Uma pop feita de tons suaves, frequentemente luminosa, embora sob uma carga sempre eminente de melancolia e, muitas vezes, aparente nostalgia (não a do ó tempo volta p'ra trás, mas a de uma vida vertiginosa atual que sonha com a placidez perdida de outros tempos). Pode são ser este o álbum para gerar maiores entusiasmos num ano onde não faltam figuras na linha da frente da invenção pop/rock. Mas é um belo companheiro com alma familiar para estes dias mais quentes que vamos vivendo.Um dos álbuns do verão, sem dúvida.