segunda-feira, junho 10, 2013

Um museu para ver o Mediterrâneo

Este texto é uma versão editada de um outro que foi originalmente publicado no DN com o título 'Um museu para celebrar a cultura mediterrânica'.

Egípcios, fenícios, gregos, cartagineses, romanos... Tantas foram as civilizações que floresceram e habitaram as margens do mar formado pela colisão da placa africana com a europeia: o Mediterrâneo. E tantas são ainda hoje em dia as culturas que habitam as mesmas linhas de costa, que nos últimos tempos assistiram ao florescer de uma “primavera” política no Norte de África, viveram convulsões no rearranjo de fronteiras nos balcãs ou assistiram à criação de um palco de celebração mais hedonista nas noites de Ibiza, constantes sendo ainda hoje os fenómenos de migrações e trocas que fazem desta uma das regiões culturalmente mais ricas em acontecimentos e diversidade de todo o mundo. É precisamente este o espaço geográfico, histórico e cultural que podemos visitar entre as salas de um novo museu que abriu as portas ao público na passada sexta-feira em Marselha.

Ao fim de dez anos de gestação e de quatro de trabalho de construção, este museu consagrado ao Mediterrâneo entra em cena no quadro da programação de Marselha 2013 Capital Europeia da Cultura. Com a forma de um cubo, erigido junto ao mar, o edifício central do Musée des Civilizations de l’Europe et de la Méditerranée (MuCEM, Museu das Civilizações da Europa e do Mediterrâneo) quer propor um constante diálogo entre o passado e o presente. O programa artístico do MuCEM cruza cinema, teatro e música. O próprio site oficial deixa claro que o museu quer “oferecer um olhar novo sobre as culturas do Mediterrâneo”.

O MuCEM corresponde à terceira encarnação de uma museu dedicado à vida em sociedade cujas origens remontam a 1884 com a abertura então de uma primeira sala dedicada a França no Musée d’Ethnographie no Trocadéro, em Paris. Depois de 1937, e durante meio século, existiu o Musée des Arts et Traditions Populaires, novamente em Paris, do qual este novo espaço em Marselha é agora um herdeiro natural.

O edifício J4, estrutura nova e central do museu.

O forte St. Jean, contíguo ao J4 ao qual está ligado por uma ponte

O centro de pesquisa fica perto da gare ferroviária da cidade.

Construído numa zona portuária, sobre um antigo molhe, o edifício central do MuCEM é uma obra do arquiteto Rudy Ricciotti, em associação com Roland Carta. Ocupa uma área de 15 700 metros quadrados, definindo duas grandes áreas. Numa delas, renovada todos os três anos, haverá uma “galeria do Mediterrâneo”, destinada a permitir a descoberta das etapas principais das grandes civilizações desta vasta região do globo. Na outra haverá exposições temporárias, as primeiras sendo “Le Noir et le Bleu, un rêve méditerranéen” e “Au bazar du genre, féminin-masculin em Méditerranée”, ambas patentes até janeiro de 2014. São ali esperados cerca de 300 mil visitantes por ano. A estrutura do MuCEM envolve ainda o adjacente (e agora recuperado) Forte de St. Jean, que acolherá exposições temáticas e a agenda de espetáculos, e ainda um Centro de Conservação (perto da Gare Saint-Charles) que, além de reservas, terá uma área aberta ao público.