segunda-feira, junho 17, 2013

Novas edições:
These New Puritans, Field of Reeds

These New Puritans 
“Field of Reeds” 
(Infectious Music) 
4 / 5

Estarão aos poucos, e discretamente, os These New Puritans a transformar-se num dos casos mais peculiares da sua geração? O certo é que, talvez mesmo desde os Talk Talk, não havia memória de uma banda capaz de ser recorrentemente consequente (e sempre surpreendente) numa discografia que parece querer fazer de cada novo disco um acontecimento desafiante e diferente dos anteriores. E depois da angulosidade das reflexões sobre as heranças pós-punk que nos deram a conhecer no álbum de estreia Beat Pyramid (2008) e da visão sinfonista de uma pop de horizontes igualmente abertos a ecos de outras latitudes que depois projetaram em Hidden (2010) eis que antecipam o ritmo das transformações dessa mítica banda comandada por Mark Hollis e propõem, já ao seu terceiro disco, a viragem para lá das fronteiras das linguagens pop/rock (e sob a presença de algumas influências jazzísticas) que os Talk Talk registaram ao quarto disco, o memorável Spirit of Eden. E as comparações acabam aqui, que na verdade os These New Puritans estão longe de ser copycats dos Talk Talk, antes nova expressão de uma lógica de demanda e evolução que fez dessa uma das mais interessantes e inesquecíveis das bandas nascidas na Inglaterra dos oitentas. Também eles ingleses, os These New Puritans cedo tomaram pelas suas mãos as rédeas de um rumo que rapidamente se afastou dos trilhos mais povoados da criação pop (e periferias) do nosso tempo. Porém, e apesar das boas ideias lançadas nos dois promissores álbuns de 2008 e 2010, só agora em Field of Reeds apresentam uma obra digna de os inscrever entre os grandes autores de uma história que se escreve todas as semanas, a cada novo disco que surge. Contando com a presença (evidente e recorrente) da cantora de jazz portuguesa Elisa Rodrigues numa série de temas do seu alinhamento, o álbum transcende claramente os espaços e as regras mais habituais da canção pop/rock, buscando caminhos além de fórmulas através de uma viagem ousada que os aproxima mais dos espaços de alguma música contemporânea, uma lógica de espaço mais habitual na música para cinema e, como já foi referido, o jazz. A escrita traduz um novo patamar de sofisticação, que os arranjos e a cuidada gravação depois transformam em pequenas grandes manifestações de gosto pelo detalhe e de busca por um sentido de perfeição. Mais próximos das composições tardias de Paddy MacAloon e do sentido de liberdade ensaiado pelos Talk Talk nos seus dois últimos discos que das visões de um Scott Walker pós-anos 80 ou das primeiras aventuras de Owen Pallett via Final Fantasy. o terceiro álbum dos These New Puritans é todavia mais uma importante contribuição para a afirmação de um espaço exterior às fronteiras “tradicionais” dos géneros em que estes dois músicos têm caminhado. Na era em que o gosto é mais livre que nunca, são discos como este que nos dão a ideia de como uma lógica de formas rígidas, de movimentos fechados e modelos pré-definidos não explica grande parte da música que, mais que procurar servir mercados, procura antes expressar a liberdade de quem a cria (e a de quem a quer escutar).