Este texto, sobre a exposição dedicada a Camille Pissarro parente em Madrid no Museu Thyssen-Bornemisza, foi originalmente publicado na edição de 8 de junho do DN,
Cézanne descreveu-o como “humilde e colossal” e mais tarde chamaram-lhe o decano dos impressionistas . De todos eles foi o único a estar representado em todos os oito salões de pintura impressionista que Paris acolheu entre 1874 e 1886. Era o mentor do grupo, admirado entre iguais e pelos que chegaram depois. Talvez não seja um nome tão “popular” como outros que o movimento deu a conhecer, acabando eclipsado pelo sucesso do amigo Monet. Mas este verão Camille Pissarro (1830-1903) será um dos nomes de quem mais se falará entre o roteiro das grandes exposições europeias. Ou não estivessem 70 das suas obras patentes em ‘Pissarro’, exposição inaugurada esta semana no madrileno Museu Thyssen-Borenmisza, onde abrirá portas até 15 de setembro (mais adiante estando prevista a sua apresentação na CaixaForum, em Barcelona).
A exposição, que é a primeira mostra monográfica em Espanha da obra do pintor francês, tem entre os seus objetivos uma tentativa de “restauro da reputação de Pissarro”, apresentando-o como “um dos grandes pioneiros da arte moderna”, como explica um texto do próprio museu. As obras agora expostas em Madrid destacam a sua veia paisagista e, ordenadas cronologicamente, dão conta dos percursos no espaço que o pintor foi vivendo ao longo dos anos, passaando por uma série de zonas rurais, mas também por cidades como Paris, Londres, Rouen, Dieppe ou Le Havre.
Com ascendência portuguesa pelo lado da família do pai (descendentes de judeus sefarditas), Jacob Abraham Camille Pissarro nasceu na ilha de São Tomás (nas Caraíbas, ilha hoje integrada nas Virgin Islands americanas). O pai, Frederick, um mercador abastado que ali havia chegado em viagem de trabalho, tinha nacionalidade francesa. A mãe, Rachel, era uma criola nativa da região e era viúva do tio de Frederick. O casamento gerou desconforto entre a comunidade local e os quatro filhos do casal acabaram por frequentar uma escola para crianças negras.
Aos 12 anos de idade, Camille foi estudar para França. E foi ali que, contra a vontade dos pais, começou a pintar. De regresso às Américas trabalhou nos negócios familiares (passando depois dois anos, na Venezuela, a trabalhar com o pintor dinamarquês Fritz Melbye). E em 1855 regressava de Paris.
É nessa altura que alarga horizontes e encontra caminhos. Inscreve-se na Académie Suisse, visita a Exposição Universal de 1855 (onde vê obras de Camille Corot e Eugène Delacroix). Em 1859 conhece Claude Monet, Auguste Renoir e Alfred Sisley, e participa pela primeira vez no Salon (em Paris), grande exposição anual que representava então o único espaço possível de grande visibilidade para novos pintores. Os seus ideais anarcas entrarão contudo em conflito com as regras algo rígidas dos Salons e, na década de 70, deixa de participar nas exposições.
Com grande parte da sua obra “em órbita do impressionismo, exceto durante o curto período de experimentação com as técnicas neo-impressioniatas sob a influência de Seurat em meados da década de 1880”, como explica um texto do museu madrileno, Pissarro teve um papel fundamental na organização de atividades do grupo de pintores impressionistas que surge em Paris. E é entre as obras deste grupo que, em oito salões, se apresentará entre 1874 e 1886. Depois deste período viveu algum tempo no campo, passando a pintar sobretudo paisagens. A deterioração da visão obrigou-o a regressar a Paris no fim da vida, dadando dessa fase os quatros que, sentado, pintou à janela, olhando o que se passava nas ruas.