segunda-feira, junho 24, 2013

Novas edições:
Sigur Rós, Kveikur

Sigur Rós 
“Kveikur”
XL Records
2 / 5

A existência de uma obra musical numa região sonicamente demarcada pode ter, por um lado, a capacidade de distinguir cedo os seus autores pela diferença mas a insistência em eventuais marcas de identidade pode depressa transformar essas paisagens distintas num pântano onde acabam atoladas novas composições e novos discos. Revelados internacionalmente pelo impacte de Agaetys Byrjun (1999), os islandeses Sigur Rós cedo deixaram claro ser senhores de uma expressão muito pessoal de uma linguagem eléctrica distinta dos caminhos habitualmente apontados em terreno pós-rock, os contrastes entre o fulgor da distorção (e mesmo de explorações no limiar do ruído) e carácter angelical da pose vocal (e a presença subtil dos arranjos com cordas) criando um lugar musical único que cedo ganhou comparações com as imagens de gelo e lava de que é feita a paisagem islandesa onde esta mesma música brota. Apesar de algumas opções pontuais por soluções distintas, a medula da obra dos Sigur Rós nunca se afastou muito deste mesmo universo. Foi perdendo fôlego criativo, entrando numa quase rotina de acontecimentos na verdade progressivamente indistintos (apesar de no mais recente álbum, Valtari, o maior protagonismo de filigranas electrónicas ter gerado momentos mais interessantes). Reduzidos a três elementos, os Sigur Rós de 2013 apresentam em Kveikur um novo álbum sobre o qual se foi dizendo que seria mais “pesado”... Na verdade tanto o CD pesa quase nada e o vinil as 180 gramas da praxe, o peso tanto aqui como no som não revelando, salvo em pontuais momentos (nomeadamente no tema-título) grande ginástica capaz de real mudança. Mais que a forma de pensar a escrita muda o tom com que abordam cenografias em alguns momentos mais tensas, talvez mais assombradas (algo que de resto já sucedera no álbum sem título, apenas com dois parênteses, que haviam editado em 2002 e que, na altura, foi o sucessor direto de Agaetys Byrjun). Em Kveikur há assim, mais que uma mudança de rumo, uma opção por uma paleta menos luminosa de sons (ocasionalmente mais tensa e intensa), na verdade em temas como Hrafntinna ou Yfirbora sentindo-se afinidades com canções de outras etapas da sua discografia, eventualmente revelando subtilezas novas na conceção da sonoplastia. O que falha em Kveikur é a concretização de uma real capacidade em mudar, o alinhamento acabando por mostrar pouco mais que tentativas de variação de modelos já usados, de onde emerge um disco onde pouco de verdadeiramente novo ou diferente acontece. Cansado e aparentemente esgotado a linguagem dos Sigur Rós traduz a realidade de um grupo fechado num beco do qual não encontra a saída. Não é dos mais inspirados da sua discografia. E não é o lastro que juntam em alguns momentos que poderia fazer a diferença.