Disclosure
“Settle”
Uir / Universal
5 / 5
O tempo por vezes retoma as histórias algumas curvas adiante... E por vezes acaba por dar o devido reconhecimento (mesmo que tardio) ao que eventualmente tenha passado ao lado das atenções. Concentremo-nos numa expressão: “deep house”. Como tão bem lembra Alex Petridis (do
Guardian) no texto em que nos apresenta o álbum da dupla de manos
Disclosure, há poucos meses corria pela Internet um pequeno
clip no qual eram usadas imagens do filme
A Queda, de Oliver Hirschbiegel, sobre as quais se sobrepunha uma breve discussão sobre como uma aposta do ditador no
dub step acabara sob uma resposta popular de adesão ao
deep house... Partilhado nas redes sociais, o pequeno
clip agia imediatamente sobre aqueles que tinham memória desse sub-género que ganhou forma entre finais dos anos 80 e, sobretudo, a primeira metade dos noventas (com o magnífico Mr. Fingers como referência maior). Mas dava sobretudo conta de movimentações na sub-cave da visibilidade, anunciando algo que poderia estar para emergir... É certo que há já algum tempo que os Disclosure – dupla de irmãos naturais do Sussex, no Reino Unido – são nome sob escuta, os EPs e singles que foram lançando desde 2010 tendo progressivamente cativado atenções e lançando expectativas. Mas só agora, enfrentado (e vencendo) o desafio de construção de um álbum podemos reconhecer que, 21 anos depois do belíssimo
Introduction, de Mr Fingers, o
deep house volta a conhecer um espaço de afirmação que transcende o mais frequente território da criação pontual para o formato de máxi-single. Quer isto dizer que 2013 é o ano a segunda vida para o sub-género? É cedo para o afirmar e um álbum sozinho não faz a festa. Mas convenhamos que o disco que confirma os Disclosure como uma das grandes forças do panorama atual da música de dança, tem tudo para ser líder de uma nova mensagem e estimular outros a avançar por caminhos semelhantes, recuperando o viço e calor de um dos mais estimulantes sub-género da cultura
house. Não vamos contudo reduzir
Settle ao papel de disco que reativa ecos de uma memória nem mesmo ao rótulo de "álbum
deep house". Até porque o que os manos Lawrence nos mostram neste alinhamento é mais que uma mera expressão de arqueologia electrónica. Pelo contrário, recuperam formas e registos sonoros característicos do
deep house mas cruzam-nos com linguagens, batidas e artes finais de produção do nosso tempo, ecos do
dubstep e de uma sensibilidade pop atual habitando as canções que o disco apresenta.
Settle é valorizado ainda pelo cardápio de convidados que expandem os horizontes (não apenas vocais) do alinhamento, as presenças de nomes como AlunaGeorge, Sam Smith, Jamie Woon, Eliza Doolittle ou Jesse Ware contribuindo para uma noção de diversidade que se expressa num quadro de franca unidade que os dois Disclosure asseguram. O álbum recupera (e ainda bem) singles anteriores como
Boling, Latch, Tenderly e o mais recente
White Noise e junta uma coleção de novas visões que sublinham um raro entendimento entre a noção de canção pop e a dinâmica necessária para a pista de dança. Está aqui um dos casos maiores de 2013 e banda sonora fundamental para uma pista de dança atenta ao que de melhor aí se pode dançar neste momento.