segunda-feira, junho 03, 2013

Crise e "AntiCrise"

Eduardo Madeira, António Machado, Rui Unas e Manuel Marques
Humor, política e futebol: três áreas temáticas que definem o melhor e o pior da televisão que temos — esta crónica de televisão foi publicada no Diário de Notícias (31 Maio), com o título 'Humor & informação'.

1. Felizmente para a nossa saúde mental, algumas reacções mais contundentes contra a formatação televisiva, nomeadamente na área da informação, provêm do próprio espaço televisivo. Um bom exemplo de tal pedagogia está no programa AntiCrise (RTP1), telejornal paródico em delirante loop, espécie de saboroso eco de Os Três Mosqueteiros que, como se sabe, eram quatro... Manuel Marques e António Machado distinguem-se por um saber acumulado através de uma série de brilhantes variações (incluindo o radiofónico Portugalex, na Antena 1); Eduardo Madeira evoluiu da escrita para a representação em tom de crescente sofisticação; enfim, Rui Unas, para surpresa de alguns (dos quais não me vou excluir), mostra qualidades muito para além das coisas vulgares em que, convictamente ou não, participou – o seu trabalho revela um inequívoco talento de representação.

2. A meu ver, os mais pobres espaços televisivos de reflexão sobre a vida política estão nas intervenções dos... comentadores políticos. Da fulanização anedótica à mera sustentação de lógicas partidárias, a maioria afasta-se da agilidade mental que a política exige. Descubro, por isso, como uma boa surpresa o facto de José Sócrates (RTP1) ter passado a utilizar no seu programa imagens da própria televisão. A mensagem é simples: é preciso olhar para tais imagens discutindo a suposta transparência universal da televisão. Não é preciso sequer concordar com ele para reconhecer que tal atitude reflecte uma salutar cultura crítica face à ubiquidade do audiovisual.

3. Não me reconheço nos discursos clubistas de programas sobre futebol como O Dia Seguinte (SIC Notícias) ou Prolongamento (TVI). Gosto demasiado de futebol para me enredar numa moral em que, cada vez que há um fora de jogo mal assinalado, alguém insinua que há uma cabala por esclarecer... Escutei, por isso, com simpatia, admiração e respeito todos os comentadores dos dois programas a reconhecerem como foi lamentável o comportamento disciplinar dos jogadores do Benfica na final da Taça de Portugal. Foi bom para todos os clubes.