Recuperar a tradição do filme de zombies? Sim, mas conferindo-lhe uma ambiência soft... Eis o programa, tão interessante quanto contraditório, de WWZ - Guerra Mundial — este texto foi publicado no Diário de Notícias (20 Junho), com o título 'O cinema do lado da morte'.
Independentemente da qualidade dos resultados, parece óbvio que as histórias de zombies possuem um atractivo que transcende as épocas. Ou melhor, capaz de atrair componentes muito particulares dos medos e angústias de cada época. Afinal de contas, no seu devastador sonambulismo, o zombie é uma entidade que já passou para o lado da morte, mas continua a conviver (?) com os humanos. No caso de WWZ – Guerra Mundial, todo esse apelo simbólico surge multiplicado por um pânico muito contemporâneo: a globalização, não apenas da informação, mas dos vírus.
O filme aposta num registo arriscado para a sua própria identidade formal: por um lado, encena a ameaça zombie como uma vertigem de impensável rapidez e violência (as imagens de várias grandes cidades ocupadas por multidões de zombies deram mesmo origem a uma interessante colecção de cartazes); por outro lado, tenta preservar a dimensão tradicional de drama familiar, concentrando a acção na personagem de Brad Pitt e na sua preocupação de garantir a segurança da mulher e filhas. É uma verdadeira quadratura do círculo: encenar uma história de zombies violentamente predadores, evitando mostrar... sangue.
Seja como for, em tempos de tantos e tão disparatados “blockbusters”, WWZ tem pelo menos o mérito de se interessar pelas questões mais básicas. A saber: a exploração dramática do espaço e a criação de alguns elaborados tempos de “suspense”. A cena do laboratório (que precede o desenlace) constitui, nesse aspecto, um brilhante exercício de filmagem e montagem, mostrando o talento do realizador Marc Forster. É certo que ele já fez bem melhor (destaco o belíssimo À Procura da Terra do Nunca, com Johnny Depp), mas quando se convocam os zombies há sempre um preço a pagar.