I - Para além dos filmes e dos espectadores, um dos sintomas da degenerescência do conceito clássico de cinefilia está no marketing dos filmes. De facto, chegou-se a uma formatação das próprias promoções que faz com que, em termos gerais (há excepções, claro!), a maioria dos filmes seja sujeita a campanhas decalcadas do estilo das que se fazem para os "blockbusters"... Efeito prático: como muitos filmes (felizmente!), não encaixam nos modelos dos "blockbusters", as campanhas são, pura e simplesmente, inadequadas aos seus próprios objectos.
II - Em alguns casos, a incompetência consegue aceder ao domínio do mais básico absurdo. Veja-se esta imagem do filme Mestres da Ilusão, visível nos mais variados sites de divulgação cinematográfica [exemplos: 1 + 2 + 3]. De facto, a sua simples disponibilização decorre de um tremendo erro promocional. Porquê? Porque nos dá a ver o rosto da personagem do capuz (Mark Ruffalo) que, em boa verdade, só é revelado nos momentos finais do filme... Estamos perante um muito básico, e também muito disparatado, "spoiler": quem estiver a ver o filme, conhecendo previamente a imagem, saberá logo nos primeiros minutos a identidade de uma personagem que a narrativa guarda para uma "surpresa" final.
III - É bem certo que Mestres da Ilusão não passa de uma triste apoteose de incompetência: uma ideia, afinal, curiosa — um grupo de ilusionistas que monta um número que é... um assalto a um banco — surge reduzida pelo realizador Louis Leterrier a uma avalancha de movimentos de câmara que confunde "velocidade" com vibração dramática. Mas, uma vez mais, importa dizer que aquilo que está em causa não é o facto de um filme ser "bom" ou "mau" (temos cabeça para pensar e pensamos, naturalmente, coisas diversas e interessantes). O que está em causa é, isso sim, o modelo de relação que se constrói com o público potencial. Através de exemplos como este, o mercado cinematográfico apenas mostra que anda à deriva, sem sequer saber respeitar as especificidades narrativas dos seus produtos.