sexta-feira, junho 07, 2013

Aventuras e desventuras de "Star Trek"

Depois do seu primeiro Star Trek (2009), J. J. Abrams tenta garantir a renovação industrial do universo da nave Enterprise, dirigindo Além da Escuridão: Star Trek; os resultados cedem à lógica corrente dos "blockbusters", ao mesmo tempo que procuram preservar as marcas originais da saga — este texto foi publicado no Diário de Notícias (5 Junho), com o título 'Aventuras e tecnologia do séc. XXI'.

Quando pensamos na primeira produção cinematográfica sobre o universo de Star Trek, surgida em 1979, há uma ironia desconcertante na evocação do nome do respectivo realizador: Robert Wise (1914-2005). De facto, Wise era um típico artesão do classicismo de Hollywood, tendo trabalhado, por exemplo, na montagem de O Mundo a Seus Pés (1941), de Orson Welles. Agora, o novo Além da Escuridão: Star Trek está entregue a uma personalidade de perfil criativo bem diferente: J. J. Abrams (n. 1966) é um produtor/realizador de cinema e televisão, herdeiro dos conceitos de espectáculo sistematizados pela geração de Steven Spielberg que, aliás, produziu aquele me parece ser o seu melhor filme (Super 8, 2011).
Não admira, por isso, que o novo filme se assuma como um metódico trabalho de síntese. Depois do novo capítulo de produção aberto com o Star Trek de 2009, também de Abrams [foto], trata-se de relançar as aventuras da tripulação da Enterprise combinando dois vectores fundamentais: por um lado, desenvolvendo um visual e integrando efeitos que possam mobilizar os espectadores mais habituados às sagas dos “super-heróis”; por outro lado, não descurando toda uma série de referências, por vezes subliminares, que garantam a fidelidade dos fãs mais antigos da série.
O resultado reflecte, necessariamente, a contradição mais funda de Hollywood no séc. XXI: o hiper-investimento tecnológico está orientado, em grande parte, para a preservação de narrativas antigas, mais ou menos formatadas. Como se as decisões dos executivos da indústria temessem, cada vez mais, a ousadia artística e o risco criativo. Em todo o caso, sublinhe-se que, face aos estereótipos de muitas aventuras de “super-heróis”, este Star Trek preserva, pelo menos, a lógica comunitária do seu universo.