Primal Scream
“More Light”
Ignition Records
4 / 5
Parar e reencontrar (em palco) Screamadelica fez bem aos Primal Scream e, cinco anos depois de Beautiful Future regressam com aquele que é o seu melhor disco desde Vanishing Point (1997). Lançado sem grande aparato, representando até a estreia da edição através da editora da própria banda, More Light é o décimo álbum de originais da banda e, claramente, um dos mais consistentes de todos os seus discos. A versatilidade sempre foi um valor acrescentado na construção de uma obra que nunca se fechou em caminhos de direções geometricamente definidas. Descobrimo-los em finais dos oitentas (em Sonic Flower Groove) em pleno mergulho entre memórias do psicadelismo, revitalizando uma relação com as guitarras que transportava ecos dos The Byrds. Em Screamadelica (1991), uma das obras-primas dos noventas, ajudaram a inventar um espaço maior de entendimento entre as genéticas da música eléctrica e as emergentes linguagens da música de dança. Logo depois, em Give Out But Don’t Give Up apontaram a mira a memórias rock’n’roll com os Rolling Stones de finais de 60 e inícios de 70 por paradigma. Saborearam desafios dub por alturas de Vanishing Point... E continuaram abertos ao prazer da experiência com a viragem do milénio, na verdade nunca recuperando o mesmo patamar em que alguns dos seus discos até então os haviam elevado... A celebração da memória dos 20 anos de Screamadelica (que passou pelos nossos palcos) pode ter contribuído para o repensar de ideias. Tanto que, ao escutar More Light, as mais evidentes referências que cruzam o alinhamento partem tanto das memórias desse álbum de 1991 (a faixa de encerramento, It’s Alright It’s OK parece mesmo definir um diálogo direto com Movin’ On Up) como das heranças que assimilavam nos dias em que se apresentavam sob encantamento psicadélico em finais dos oitentas. O disco, onde colaboram figuras como as de Robert Plant, Mark Stewart ou Kevin Sields, é contudo mais que um exercício de síntese destes ecos e da própria linguagem lírica muito pessoal que sempre caracterizou a escrita de Bobbie Gillespie. Mais tranquilo que agitado (embora alargue horizontes a vários estados de alma e a vários níveis de intensidade rítmica), More Light acrescenta à obra dos Primal Scream um certo tom mais classicista que se manifesta, por exemplo, na visão algo cinematográfica (e sob arranjo orquestral) de Rivers of Pain ou nos ecos “beatlescos” de um Tenement Kid, ao mesmo tempo aceitando o desafio da experimentação de novas formas ao alargar os espaços da canção-assinatura do tempo em que vivemos 2013 a uma consequente experiência de nove minutos. Com ideias mais arrumadas que em qualquer dos álbuns pós-Vanishing Point, com um rumo mais próximo do que podemos entender como a essência da alma do grupo e as suas melhores canções dos últimos anos, More Light é um belíssimo regresso de uma banda veterana em grande forma.