segunda-feira, maio 13, 2013

Novas edições:
Little Boots, Nocturnes

Little Boots 
“Nocturne” 
On Repeat / Popstock 
3 / 5 

Fazer um segundo disco que se afasta das premissas que fizeram do primeiro um caso capaz de cativar atenções por vezes envolve o risco de causar desilusão (ou pelo menos estranheza) junto de quem esperava sequelas... Revelada em 2009 com Hands, um promissor álbum de estreia feito de cores pop quentes e de evidentes temperos nas periferias do electro, Little Boots (que é como quem diz Victoria Hesketh) resolveu fazer breve voto de silêncio para regressar, quatro anos depois, rumo a outros horizontes. Correndo evidente risco de acabar afogada numa sala electropop onde se juntaram nomes como os de Lady Gaga, La Roux, Robyn e outras mais novas “divas”, Little Boots procura no segundo álbum, a que chamou Nocturnes, uma via diferente de contacto com os espaços da noite. Menos centrada na celebração luminosa da festa, mais focada na relação melancólica, ou pelo menos reflexiva, que fica (já a sós) quando as luzes acabam. E, musicalmente, mais animada por reencontros com heranças que encontra entre memórias mais primordiais da cultura house e do próprio disco sound. Contando com uma série de parceiros na produção, entre os quais Andy Butler (dos Hercules & Love Affair), Tim Goldsworthy (que fez nome na DFA) ou James Ford (dos Simian Mobile Disco), Little Boots procura neste segundo disco a libertação do que poderia ser um mergulho (eventualmente em piscina sem água) que uma insistência nas coordenadas do primeiro álbum poderia ter gerado. Não rompe em definitivo com ecos dessas experiências, entre temas como Crescendo ou Stragners surgindo ecos diretos, todavia menos garridos, de caminhos outrora por si trilhados ou, em Broken Record, um irresistível episódio de puro festim eletrodisco. Mas centra nos diálogos entre a pop e a house (como em Every Night I Say A Prayer, com sabores aos dias de Erotica) ou em aproximação a genéticas clássicas da canção de sabor disco (como em Confusion) um alinhamento que, mesmo distante do alinhamento mais nutritivo (mas também, sublinhemos, mais imediato) de Hands, mostra que, tal como o está a fazer Robyn, há caminhos pop a trilhar na eternamente inspiradora relação entre o formato da canção e os ecos das culturas associadas à música de dança.