Anton Adasinsky, "Mefistófeles" |
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No labirinto de Fausto, de Aleksandr Sokurov, há uma vertigem nunca aquietada. Por um lado, todos se olham de forma intensa, intensamente desconfiada — afinal, quem está a tramar quem? Por outro lado, a velocidade dessas trocas (de olhares) é tão desconcertante que nunca temos a certeza daquilo que cada um vê — ou como é que cada um é visto pelo outro. Podemos dizê-lo através de uma componente da própria linguagem cinematográfica: não há planos subjectivos. Ou, se os há, dir-se-ia que o dispositivo vertiginoso em que estão integrados nos impede de ter a certeza sobre a sua inserção. Daí o valor sintomático deste fotograma que, por assim dizer, nos faz ansiar pela explicitação daquilo que o Diabo vê. Em boa verdade, queremos saber qual o ponto de vista do Mal. Não poderia haver mais contundente caracterização de qualquer genealogia da moral (que Nietzsche nos acuda...).