Este texto, evocativo da vida e obra do maestro Sir Colin Davis, foi originalmente publicado na edição de 16 de abril do DN com o título 'A batuta de Colin Davis baixou pela última vez'.
Chegou aos escaparates das lojas de discos (físicas e online) há poucas semanas, assinalando o final de um importante conjunto de gravações da obra orquestral de Berlioz pela London Symphony Orchestra. Sob a direção de Sir Colin Davis, uma gravação da Grand Messe des Morts, captada ao vivo na St. Paul’s Cathedral (tomando partido das suas potencialidades acústicas, recuperando de resto o ambiente em que esta obra fora estreada em 1837) tornou-se assim a última edição em vida do maestro que iniciou a sua colaboração com a orquestra londrina e que teve precisamente em Berlioz um dos seus compositores de eleição. Anunciada pela própria London Symphony Orchestra (a LSO, como habitualmente é referida), a morte de Sir Colin Davies deixa assim, tal como o sugere esta magnífica obra coral de Berlioz, a memória de uma existência maior, que a própria orquestra recorda no seu site com “afeto e admiração”.
Se Berlioz foi um dos compositores em que o maestro britânico se fez especialista - a sua gravação de Les Troyens, com a LSO, valeu--lhe inclusivamente dois Grammys em 2002 (ganharia um terceiro, mais tarde, com um Falstaff, de Verdi) -, a London Symphony Orchestra, da qual foi maestro principal entre 1995 e 2006, foi a sua mais célebre “casa”.
Natural de Weybridge (no Surrey), onde nasceu em 1927, começou a ouvir música no gramofone dos pais e sentiu o chamamento para um percurso pro- fissional quando, adolescente, ouviu uma 8.ª Sinfonia de Bee-thoven. Enquanto estudante no Royal College of Music começou por pensar num futuro como clarinetista, mas cedo ambicionou a uma carreira como maestro, apesar de ter de enfrentar dificuldades com o facto de, por não tocar piano, não ser admitido nas aulas de direção de orquestra da escola ou, mais tarde, pela interrupção dos estudos a que o serviço militar o obrigou.
Em 1957 começou uma carreira regular como maestro assistente na BBC Scottish Opera e ganhou visibilidade quando, em 1959, susbtituiu Otto Klemperer (que adoecera) num Don Giovanni no Royal Festival Hall. A partir de 1960 cimentou notoriedade ao passar por lugares na Sadler’s Wells Opera, na BBC Symphony Orchestra, mais tarde (em 1970), chegando à Royal Opera em Covent Garden. E esteve ainda na Symphonieorchester des Bayer-ischen Rundfunks (Munique) antes de, em 1995, tomar o lugar há muito desejado na LSO (orquestra que, em concerto, dirigira pela primeira vez em 1959).
Durante o período em que esteve à frente da LSO Davis acompanhou a criação de uma editora da própria orquestra (ver caixa), através da qual amplificou um catálogo de mais de 300 gravações (muitas delas registadas pela Phillips Classics e pela RCA). Ao nome de Berlioz (com o qual se despediu em disco já em 2013) podemos juntar um reconhecido trabalho de exceção junto de obras de Sibelius, Stravinsky, Nielsen ou Tippett, entre outros compositores.