Entre as primeiras impressões dos filmes da 10ª edição do IndieLisboa assinala-se já uma primeira grande surpresa. Trata-se de La Piscina (Cuba/Venezuela, 2012), primeira longa-metragem do realizador cubano Carlos Machado Quintela que, antes de ter conhecido exposição maior na Berlinale, tinha já arrebatado um prémio especial do júri num festival para novos realizadores em Havana. La Piscina (passou ontem na secção Cinema Emergente) é um dos mais profundos exemplos de um minimalismo (formal e narrativo) que tem cruzado algum do recente cinema latino-americano e que tem entre os seus títulos de referência o injustamente quase ignorado Lake Tahoe, filme de 2008 de Fernando Embicke (o mesmo autor do mais reconhecido Temporada de Patos).
Como o nome sugere, há uma piscina em cena. Uma piscina pública, que serve de cenário para quase todos os planos do filme, acompanhando as imagens o curso de um dia como tantos outros, mas centrando o olhar nos habitantes mais permanentes daquele espaço. Um deles é o instrutor que tem a seu cargo a manutenção do lugar e sua vigilância, interpretado pelo único ator profissional do elenco (Raúl Caopte). Ele é mais uma presença observadora que um interveniente, o seu olhar sobre aquele lugar e quem ali está sendo quase como o que nós, frente ao ecrã, podemos acompanhar. O protagonismo desta quase não-narrativa cabe a quatro adolescentes, todos eles com deficiências físicas, que ali chegam de manhã cedo antes dos demais utilizadores da piscina e por ali ficam depois, tarde adentro. Nadam, conversam, protegem-se de uma chuvada, contemplam a água e as nuvens, almoçam, dormem a sesta, discutem...
Sob uma direção de fotografia exemplar, um sentido de enquadramento que expressa um gosto pela exploração das linhas retas que fazem a piscina e as construções que a envolvem e um trabalho atento à cor, as imagens de La Piscina acompanham assim o minimalismo que acaba por morar entre as longas horas de um dia como tantos outros. Quintela poderia ter-se afogado numa espécie de voyeurismo sofisticado. Mas La Piscina sabe manter-se à tona, como quem boia em repouso sobre as águas. E aceitando a sugestão desse ritmo e desse movimento tranquilo, opta antes por nos confrontar com os olhares e personagens, abrindo-nos espaço para com eles construirmos o que, mais que omisso, pode estar afinal na alma de quem ali passa aquela jornada de verão.
Como tão bem o sublinhou o Nuno Carvalho na crítica publicada na edição de ontem do DN, “La Piscina é um olhar contemplativo, vagaroso e minimal sobre um conjunto de personagens que funciona como um microcosmos da vida real. Apesar dos seus problemas e pulsões contraditórias, e do enigma que cada um transporta dentro de si, todos comparecem na piscina como se fossem linhas paralelas humanas com esperança de um dia se tocarem no infinito do amor”.
Mais uma chamada de atenção para outra das propostas da secção Cinema Emergente. Trata-se de Yumen (China/EUA, 2013), um filme que caminha entre o registo documental e a construção ficcional, assinado por J.P. Sinadecki, Xu Ruotao e Huang Chiang. Aqui somos levados até à Yumen de que fala o título, uma cidade-fantasma na região de Gansu, no nordeste chinês. Outrora um ativo pólo de exploração petrolífera, Yumen é hoje um espaço sem-deserto, entre as suas ruinas caminhando agora os seus “fantasmas”, o filme sublinhando os contrastes entre a vida febril de tempos recentes e a ruína que trouxe o silêncio.
Imagens do trailer de La Piscina
La Piscina repete dia 24, pelas 23.55, no Cinema City Alvalade.
Yuman repete dia 27, pelas 22.00, na Culturgest