É uma questão moral. Moral da memória, quero eu dizer — sobretudo se acreditarmos, como eu acredito, que somos o que somos também através das memórias que cultivamos. Não tendo aqui escrito uma nota sobre o desaparecimento de Alvin Lee (falecido a 6 de Março, contava 68 anos), mea culpa, não quero deixar de lhe dedicar umas breves linhas de homenagem e admiração.
É bem verdade que Lee, guitarra e voz, foi um daqueles monstros do rock que, nunca se aquietando num lugar, construiu uma carreira em que as performances a solo alternam com as mais diversas formas de colaboração — entre estas, recorde-se esse álbum emblemático, muito marcado pela folk, que é On the Road to Freedom (1973), co-assinado com Mylon LeFevre, contando com colaborações de George Harrison, Steve Winwood, Jim Capaldi, Mick Fleetwood e Ron Wood. Seja como for, a sua imagem de marca é indissociável dos Ten Years After, banda de blues rock que fundou em 1966, com Leon Lyons (baixo), Chick Churchill (teclados) e Ric Lee (bateria).
Na sua primeira fase com os Ten Years After (até 1974), Alvin Lee ficou ligado a uma série de álbuns de inconfundível energia, muito apoiada na versatilidade da sua guitarra e no dramatismo da sua voz, incluindo Undead (1968), Ssssh (1969) e Cricklewood Green (1970). O tema I'm Going Home, de Undead, conferiu-lhes estatuto mitológico graças à respectiva performance, a 17 de Agosto de 1969, no Festival de Woodstock — aqui fica o registo, extraído do filme Woodstock (1970), de Michael Wadleigh; em baixo, uma raridade filmada por Wim Wenders (em plano fixo!), pertencente a uma filmagem de cerca de 45 minutos: um ensaio de Woke up This Morning, em 1969, num estúdio de Munique (o tema viria a integrar, com diferenças de letra e arranjos, o álbum Ssssh).
>>> Obituário de Alvin Lee no New York Times.