segunda-feira, abril 08, 2013

Entre memórias e lojas de discos
com Isilda Sanches

Iniciámos na última semana no Sound + Vision a publicação de uma série de memórias pessoais sobre os espaços das lojas de discos. Hoje passam por aqui as palavras de Isilda Sanches, da rádio Oxigénio. À Isilda um muito obrigado pela colaboração.


Onde cresci não havia lojas de discos. O mais parecido eram as bancas das feiras que nunca tinham nada que me interessasse. Os discos que eu queria, desde que me lembro de querer discos, estavam nas listas da Gema Records, que os meus irmãos levavam nas férias.
A primeira loja de discos em que entrei foi a Discoteca do Carmo, em 1983 ou 1984, numa visita a Lisboa. Fiquei fascinada enquanto o meu irmão comprava, acho que um disco dos Cure. Durante os anos de faculdade, já em Lisboa, passava regularmente pela discoteca Arco Iris para comprar clássicos em Nice Price. Foi assim que a minha coleção de discos cresceu.
Mas a verdadeira mitologia das lojas de discos começou com a Contraverso e uma imensidão de nomes que desconhecia, mas que queria descobrir só porque estavam ali. A Contraverso tinha uma certa aura de sociedade secreta, parecia que era preciso ter acesso a conhecimento especial para merecer comprar os discos. Normalmente as idas eram planeadas e cronometradas. Lia as critica, poupava o dinheiro e treinava o espirito para não cair na perigosa tentação de comprar mais discos do que podia. As conversas esotéricas que só os geeks de lojas de discos têm, tornavam a ida as idas à Contraverso numa experiencia de risco, porque, como se sabe, um disco leva a outro e falar com pessoas, ou ouvir pessoas falar, em lojas de discos faz desabar qualquer contenção orçamental. Apesar disso, admito que também tenho um lado de geek de lojas de discos e já passei muitas horas em conversas mais ou menos esotéricas sobre discos e bandas e musica. Na Torpedo, do terminal do Rossio, onde passava quase todos os dias antes de apanhar o comboio, na Lollipop do Rui Miguel Abreu e do Rui Vargas, onde ia muitas vezes passar tardes de sábado só porque sim, na Bimotor quando ia buscar discos para a XFM, hoje na Flur, que é parte da familia.
Todas elas têm história, mas as que mais me ficaram na retina ficam em Zurique na Suiça. Lojas de segunda mão, cheias de pérolas esquecidas em caixotes por cima e debaixo de mesas, obscuridades do mundo inteiro em múltiplos exemplares, verdadeiras rodelas de história que apetece comprar às caixas. Quando a oferta é muita eu tendo a bloquear mas, mesmo sem conseguir comprar nada, passei longas horas a vasculhar nos caixotes. A foto é de uma delas, a Zero Zero, mas também podia ser da Recordjunkie.