Inc.
“No World”
4AD / Popstock
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Que uma das verdades maiores da história musical de 2012 foi o “regresso” do r&b a um considerável patamar de feitos discográficos e reconhecimento crítico ninguém duvida. E como “mandam” as regras, perante a onda, faz-se surf... E entre a multidão que entra em cena ou agora ganha (ou tenta ganhar) outra visibilidade conta-se a dupla Inc., que junta os irmãos Andrew e Daniel Aged (com casa em Los Angeles) que, como Teen Inc., tinham já editado um primeiro EP em 2011. Adeptos da construção de canções com a ajuda de um laptop (nada contra, acrescente-se) e com evidentes interesses apontados a heranças do r&b, apresentam-se agora com um álbum que, tal como o EP, surge através do catálogo 4AD. No World reforça assim o processo de evidente busca de novos rumos por parte de uma editora que começou por se afirmar nos anos 80 como “casa” de uma sonoridade texturalmente elaborada e feita de sugestões de facto diferentes de tudo o mais quando nos revelou nomes como os Cocteau Twins, Dead Can Dance, uma histórica recolha de folclore búlgaro (sob o título Le Mystere des Voix Bulgares) ou mesmo o projeto “caseiro” This Mortal Coil, a meio da década servindo de janela para a entrada no mundo de uma nova geração indie rock americana (com os Pixies ou Throwing Muses), mais tarde tateando caminhos electrónicos com uns Thievery Corporation ou Gus Gus... Longe de ser editora de um rumo só, a verdade é que ao longo da sua vida a 4AD sempre soube escutar ideias e olhar adiante do momento, estratégia que nos últimos anos se confirmou com a presença de nomes como os TV On The Radio, Atlas Sound, Deerhunter, Gang Gang Dance, Zomby ou St. Vincent, com jóia da coroa na contratação do veterano Scott Walker. Nos últimos tempos assistimos à chegada do catálogo de figuras como os projetos Purity Ring, Grimes ou Indians, que traduzem uma vontade de representar uma nova geração que trata a pop com ferramentas electrónicas e traduz ecos reais da cultura popular do presente. Acontece que, com os Inc. a editora dá o seu tiro mais distante do alvo. A milhas, muitas mesmo, de alguns dos front runners da nova geração r&b (como Frank Ocean, Miguel, The Weekend), No World é uma coleção de canções tecnicamente competentes, mas desinteressantes, revelando o disco uma nada entusiasmante tentativa de representação de um presente que, na verdade, não passa aqui. The Place, que abre o alinhamento, pode até chamar atenções pelas características clean e simples com que doseia elementos r&b numa matriz electrónica. Mas o alinhamento tropeça a partir de então num jogo de mais do mesmo, que dilui num caldo algo neutro todos os ingredientes. Em suma: um dos grandes tiros ao lado na história de uma editora de grande responsabilidade e marcante contribuição para a história da música dos últimos 30 anos.