domingo, março 10, 2013

Gustav e Gustavo, em Los Angeles


No seu primeiro lançamento no formato de CD com a orquestra de Los Angeles que dirige, o maestro Gustavo Dudamel regressa a Mahler, um nome cada vez mais central na sua obra discográfica. Este texto é uma versão editada de um outro originalmente publicado no DN online a 11 de fevereiro com o título 'Novo encontro de Dudamel com Gustav Mahler.

Ao escolher como encetar discograficamente, em suporte de CD, o seu relacionamento com a Los Angeles Philharmonic (de que é diretor artístico desde 2009), o maestro venezuelano Gustavo Dudamel apontou azimutes a Mahler, afinal mais não fazendo senão regressar ao que parece ser não necessariamente um porto seguro, mas antes a um relacionamento que será certamente central à sua própria relação com a música. Em 2007 Dudamel tinha já editado, como o seu segundo disco para a Deutsche Grammophon, uma 5ª Sinfonia de Mahler, em companhia da Orquestra Simon Bolívar. E na noite em que se apresentou pela primeira vez como diretor artístico da Los Angeles Phiharmonic, não só fez a estreia mundial de City Noir de John Adams, como completou o programa com uma Sinfonia Nº 1 de Mahler. Na verdade, uma gravação dessa atuação ao vivo representou a sua “estreia” em “disco” com a orquestra de Los Angeles, o registo tendo sido contudo apenas disponibilizado em áudio numa série exclusivamente para edições digitais (havendo contudo um DVD, lançado ainda em 2009, que junta todo o programa dessa noite). A videografia de Dudamel conta ainda com um outro título dedicado a Mahler e na companhia conjunta da Los Angeles Philharmonic e a Sinfónica Simon Bolívar: uma gravação da monumental Sinfonia Nº 8. Feitas as contas, até à chegada desta gravação da “nona” (registada ao vivo em “casa”, ou seja, no Walt Disney Concert Hall, há precisamente um ano, em fevereiro de 2012), eram já três as sinfonias de Mahler editadas sob direções de Dudamel, esta contudo representando a primeira que, em disco (e convém reforçar a ideia do suporte físico) assinala o início de um relacionamento com a orquestra americana que, mesmo não estando a viver sob o mesmo perfil de euforia quase “pop” com que Dudamel viu aclamada a sua ascensão com a Simón Bolívar, reforça por outro lado as reais capacidades de direção de orquestra de um dos maestros-estrela do nosso tempo. Obra marcante criada na reta final da vida de Mahler, a “grande” Sinfonia Nº 9 é uma das mais visionárias de toda a sua carreira, vislumbrando novos caminhos que a música começava a trilhar há pouco mais de cem anos. Características que Dudamel respira e assimila com a segurança e responsabilidade de quem reconhece a enormidade da obra que tem em mãos, mas que sabe levar a bom destino.