terça-feira, março 19, 2013

A "democracia" do IMDb

1. Convém não cedermos à tentação do cinismo... Que é como quem diz: um site como o IMDb tem uma utilidade real e, apesar de estar muitíssimo longe do rigor de uma genuína enciclopédia, não deixa de ser um razoável instrumento de consulta.

2. Não se trata, assim, de questionar o próprio conceito que sustenta o IMDb. Mas de observar o efeito pontual das suas práticas "democráticas", a começar por essa que, à maneira do delírio estatístico e dos polegares ao alto do nosso tempo, tudo reduz a acumulações de multidões mais ou menos ululantes...

3. Ficamos a saber, então, que O Último Desafio, recentíssimo disparate com Arnold Schwarzenegger (que nem sequer sabe respeitar as memórias de alguns grandes filmes de acção que o próprio protagonizou), merece uma média de classificações dos frequentadores do site que se cifra em 7,0. Digamos, por isso, que estamos ao mesmo nível de Uma Lição de Amor (1954), maravilhoso e inteligentíssimo melodrama da fase inicial da carreira de Ingmar Bergman que, IMDb oblige, merece a mesmíssima consideração estatística: 7,0!


4. Não nos precipitemos. Não estamos num debate (?) futebolístico a sugerir que os árbitros são corruptos apenas porque o "nosso" clube perdeu... Que é como quem diz: ninguém duvida do rigor estatístico do IMDb e da honestidade de processos dos que para ele trabalham. Trata-se apenas de reconhecer que a ilusão democrática do "tudo à molhada" só pode produzir estas obscenas equivalências.

5. Repare-se: poderíamos até admitir que a filosofia teórica do IMDb se traduzisse numa valorização deste género: Schwarzenegger = Bergman. Se é disso que se trata, avancem, por favor... Seria, por certo, o triunfo do horror — mas seria um ponto de vista, frontal e frontalmente assumido. Mas não é disso que se trata: apenas nos lançam à cara uma equivalência estatística que, em boa verdade, não tem rostos, não tem ideias, não se enraíza em nenhum pensamento de cinema e para o cinema. Ninguém é obrigado a gostar de um filme de Bergman, por sinal (digo eu...) um dos génios de toda a história do cinema. Em todo o caso, a acumulação pueril de estrelinhas não é uma boa razão para o colocar a par de Schwarzenegger, com todo o respeito pelo ex-Governador da Califórnia.