sexta-feira, fevereiro 08, 2013

Reedições:
Julian Cope, Saint Julian


Julian Cope 
“Saint Julian” 
Island Records 
3 / 5

Os Teardrop Explodes eram já uma memória arrumada entre as referências da geração indie britânica que tinha assegurado a transição entre os ecos diretos do punk e os novos horizontes que o panorama pop/rock alternativo vivera nos inícios dos oitentas. Julian Cope, o vocalista da banda, encetara entretanto uma carreira a solo e tinha já editado os álbuns World Shut Your Mouth e Fried, ambos editados em 1984 e refletindo sinais de busca de caminhos menos redondos, traduzindo até olhares sobre heranças do psicadelismo (isto numa altura em que esses eram caminhos algo afastados da linha da frente da invenção pop). Um novo acordo editorial junta então Julian Cope ao catálogo da Island Records. E com o novo contrato surgem uma nova pose (de “estrela” pop), uma nova imagem (vestido a cabedal negro) e um novo som (mais limpo, mais direto, mais... pop). E é nesse quadro de ingredientes que nasce Saint Julian, aquele que ainda hoje é o álbum a solo comercialmente mais bem sucedido da obra de Julian Cope e que, mesmo distante dos espaços nos quais acabaria por recentrar a sua demanda pouco tempo depois, representa um bom exemplo de um tempo em que os terrenos da música alternativa ensaiaram diálogos com a cultura mainstream (ou seja, já havia experiências bem sucedidas do género antes dos efeitos gerados pela adesão da MTV aos terrenos do rock alternativo americano nos anos 90). Saint Julian não é exatamente um ovni na carreira de Julian Cope, até porque o sucessor My Nation Underground (1988) opta por seguir caminhos semelhantes. Na verdade, a nova banda que Cope juntou para gravar o disco e o levar à estrada (onde havia um ex-Waterboys e alguns antigos colaboradores em discos anteriores seus) mais não fez senão recuperar o som mais arrumado que o próprio Cope já visitara em discos dos Teardrop Explodes, a escrita igualmente mais centrada em formas claras e “clássicas” ajudando a conferir uma outra nitidez a canções como Trampolene, World Shut Your Mouth ou Eve's Volcano que, sem surpresa, acabariam por gerar alguns dos singles mais bem sucedidos do seu percurso. Saint Julian é, assim, o mais direto herdeiro de Wilder, o álbum que os Teardrop Explodes editaram antes da sua separação. E até o momento de fuga ao formato da canção pop que encerra o alinhamento com A Crack In The Clouds acaba por sugerir ligações eventuais a esse mesmo disco. Agora, passados mais de 25 anos, Saint Julian regressa numa edição especial que junta um segundo CD com lados B e versões máxi, propondo assim um retrato da etapa mais pop na obra de Julian Cope.