Unknown Mortal Orchestra
“II”
Jagjagwar
3 / 5
“II”
Jagjagwar
3 / 5
Assim como o faz o ‘disco’, também o rock psicadélico é espaço de referência que, geração após geração, cativa novos criadores e conquista novas plateias, os primeiros talvez encantados com o eventual potencial de liberdade que ali encontram, os segundos possivelmente rendidos pelas qualidades caleidoscópicas e sedutoras que por ali podem descobrir. As ideias lançadas e exploradas por visionários que fizeram história na segunda metade de 60 (com pico criativo entre 1966 e 67) tiveram assim expressão em diferentes tempos e obras, uns alcançando visibilidade maior (como uns Stone Roses ou MGMT) outros acabando, mesmo com discos cativantes, diluídos entre as memórias do seu tempo (e podemos aqui recordar uns Dr Phibes and The House of Wax Equations ou Olivia Tremor Control). A palavra vai passando, vencendo cada nova década que chega e, nos tempos que correm, vamos ouvindo falar de uma nova geração de cultores desta grande herança, na qual encontramos nomes como Tame Impala, Ariel Pink, Peaking Lights ou a Unknown Mortal Orchestra. Estes últimos entraram em cena há pouco mais de três anos sob aquele clima de “mistério” que o próprio nome sugeria. Quem eram? Eram, na verdade, um músico com berço na Nova Zelândia (Ruban Nielson) e outros dois de Portland (no Oregon, uma das capitais rock’n’roll dos EUA), o tempo que entretanto passou e o álbum que editaram pelo caminho transformando assim o “afinal quem são?” num nome que cativou atenções, tanto que chegou mesmo a fazer-se à estrada com os Grizzly Bear. Agora, sem a aura de “mistério” que os viu nascer mediaticamente é da música que se fala quando se fala de II, o seu segundo álbum de originais. Mais que apenas herdeiros de memórias que apontam às (distintas) heranças de uns Love ou 13th Floor Elevators, juntam aqui estas a outras vivências, assimilando elementos que passam ocasionalmente pelo funk (a lembrar as cores vivas dos dias de um Around The World In A Day em Monki), soul (que ilumina com outra luz o belíssimo Good at Being in Trouble) e ocasionais mergulhos por territórios de maior peso. Estes são ingredientes clássicos que já tantas vezes foram temperados a gosto por tantos outros, o alinhamento de II dando-nos sinais de boa gestão dos condimentos quando a escrita é mais consistente e os “agarra” na forma de grandes canções, como escutamos ao som de Swim and Sleep (Like a Shark) ou One At The Time, solidez que não segura contudo todo um alinhamento onde por vezes a bússola das ideias (e a sua capacidade em arrumá-las) parece perder o Norte. Se caminharmos entre as incursões pelo psicadelismo ao longo dos últimos 20 anos verificamos que, para lá dos Animal Collective e uma mão cheia de discos mais, o entusiasmo com que alguns textos críticos acolhem estas sucessivas incursões pelo psicadelismo não tiveram depois reflexo de igual peso na capacidade destes nomes e álbuns em fixar novas visões destas mesmas referências num novo tempo. Aplauda-se o esforço de II e apontem-se aqui algumas belas canções que sabem ser herdeiras desta distinta família de ideias. Mas ao trio nascido dos dois lados do Pacífico falta ainda muito para sonhar em um dia poderem inscrever o título de um disco seu no Olimpo de um dos mais influentes espaços da cultura pop/rock.