quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Em Marfa, com Larry Clark

Estreou na edição de 2012 do festival de Roma (que venceu) e, desde então, não mais foi visto numa sala de cinema. Chama-se Marfa Girl, é ainda o mais recente filme de Larry Clark e, para o vermos, temos de aceder ao seu site oficial, pagando um bilhete virtual que nos permite o acesso ao filme por 24 horas. O futuro do cinema? Não o sabemos ainda se assim o será. Mas esta é uma contribuição importante num momento em que, perante quebras de receitas nas bilheteiras, se debate (e repensa) o panorama da distribuição.

Primeiro o filme. Em tudo é fiel a uma demanda pessoal do realizador que tem vindo a talhar uma obra vincadamente demarcada e que conta com títulos absolutamente marcantes como o foram Kids, Bully ou Ken Park. A juventude, a descoberta da sexualidade e um sentido de desnorte perante eventuais rumos futuros que se materializa num focar do agora em detrimento do depois, são caros a uma obra onde o universo do skate, da criação artística (e da música em particular) são também presenças firmes. De certa forma há em Marfa Girl algumas afinidades com os universos culturais de um Wassup Rockers onde Larry Clark centrava atenções junto de jovens latino-americanos, que optavam pela demarcação da sua identidade ao vestir roupas justas e ouvir punk rock num bairro do Sul de Los Angeles onde o hip hop é a voz corrente e os tamanhos mais usados vão para lá do 'L'.
Estamos contudo em Marfa, uma cidade fronteiriça no Texas, entre uma expressiva comunidade latina. Há uma banda de punk rock que ensaia num barraco. Uma pintora em retiro criativo que habita um atelier ali ao lado. Um jovem que se descobre a si, ao seu corpo e ao desejo, uma mãe que gosta de ouvir falar de misticismos e medicinas alternativas, uma namorada, amigos. E um agente da guarda fronteiriça, que o mantém sob perturbante vigilância.

Se Larry Clark junta temas e caminhos frequentes à sua obra em Marfa, é porque não só o lugar lhe permite alargar os horizontes dos olhares, como assinala também um relacionamento com um lugar com importante presença na criação artística dos últimos 40 anos. Não só foi ali que foram rodadas muitas das sequências de O Gigante, o último filme protagonizado por James Dean, como mais recentemente foi em Marfa que os irmãos Cohen e Paul Thomas Anderson deram vida a, respetivamente, Este País Não É Para Velhos e Haverá Sangue. A relação de Marfa com a criação artística não se esgota contudo no cinema, cabendo a Donald Judd (referencia maior do minimalismo nas artes plásticas) o encetar de um relacionamento com aquela localidade texana, quando para ali se mudou em 1971 e fundou um atelier em dois barracões. Um relacionamento que se mantém vivo, bastando para tal ver a intensa atividade que tem o centro Ballroom, com programação de exposições, música e cinema.

Foto: Wikipedia
Foto: Chinati Foundation
Foto: Chinati Foundation
Três olhares em volta de Marfa. Em primeiro lugar o Prada Marfa, uma exposição / instalação permanente criada por Michael Elmgreen e Ingar Dragset. Depois obras de Donald Judd e Richard Long que integram a coleção da Chinati Foundation e estão expostas ao ar livre, junto do museu da fundação.