Lawrence Arabia
“The Sparrow”
Coop
4 / 5
James Milne gosta de criar a vestir a pele de várias personagens. Natural da Nova Zelândia, tem carreira que passa já por várias bandas – com nomes tão distintos quanto The Reduction Anngels, Barb ou The Brunettes - mas é através do alter ego que criou em 2006, quando se estreou a solo, que o vamos conhecendo melhor. Sem o “of” (ou, em português, o “da”) que faz toda a diferença, apresentou-se então como Lawrence Arabia. E ao que parece numa entrevista há já algum tempo acabou por confessar que a dada altura deu por si com um nome com o qual é quase impossível de lidar na era dos motores de busca, tantas vezes que os resultados de quem o procura apontam mais vezes à figura que Peter O’Toole criou para o filme de 1962 de David Lean (Lawrence da Arábia, naturalmente), mais até que a própria figura de Thomas Edward Lawrence que ali é retratada. Em 2009 resolvia as “confusões” com o apelo pop imediato que lhe valeu Apple Pie Bed, o tema que mais deu que falar do alinhamento de Chant Darling, o seu segundo álbum de originais. Em 2012 (sim, o álbum ainda é da colheita do ano passado, mas para falar dele mais vale tarde que nunca) mostrou contudo que não era homem para ficar encostado à receita de sucesso que lhe deu visibilidade. E apresenta em The Sparrow aquele que é, até agora, o seu melhor e mais consistente disco. Sem a luminosidade pop da canção que ofuscara as demais no alinhamento de Chant Darling, o novo disco propõe uma coleção mais coesa de canções nas quais se vinca não apenas uma escrita mais firme como parecem mais claras as referências que moram na sua genética. John Lennon parece ser ainda uma luz maior, a ele devendo juntar-se o sentido melodista e cénico da pop de uns Kinks e o sentido elegante (porém sem a mesma intensidade a carga dramática de um Scott Walker em finais dos sessentas). O Lawrence Arabia de 2012 (para ouvir ainda em 2013) é um contador de histórias capaz de enquadrar as suas narrativas no quadro das suas canções. Peças essencialmente tranquilas, feitas de formas elegantes, com arranjos elaborados mas nunca impositivos (onde moram cordas e metais), os ecos dos sessentas cruzando os tempos e encontrando aqui ecos que Milne interpreta e faz seus, chamando o sentido de elegância clássica que os “vizinhos” (australianos) Crowded House abraçaram por voltas de Woodface. E entre Travelling Shoes, Lick Your Wounds e The Listening Times define uma das mais belas sequências de abertura que temos ouvido nos tempos mais recentes a bordo de um álbum de canções pop (e outras coisas perto disso).