Entre estas duas capas da mesma revista — e respectivas imagens — há 58 anos (2012/1954) de história. De histórias. São imagens e histórias que nos convocam para qualquer coisa que o conceito banal de "imitação" talvez não consiga preencher. A questão é: quando, nos nossos dias, Nicole Kidman roda um filme sobre Grace Kelly (1929-1982), que acontece? Ou que esperamos que aconteça? Uma repetição mágica da lenda ou uma nostalgia de impossível gratificação?
Em qualquer caso, seja qual for o resultado artístico do filme, assistimos aqui ao reforço de uma obsessão muito dos nossos dias. A saber: a estranha "insuficiência" dos originais e a continuada celebração das cópias. Como se a proliferação de imagens que habitamos (e nos habita), em vez de apaziguar a nossa ânsia visual, a multiplicasse numa vertigem de impossível quietude. Provavelmente, é pedir demais a alguém que sustente semelhante comparação — mas é também um facto que, por vezes, a excelência de um actor (ou uma actriz, hélas!) se joga na maravilhosa insensatez destes desafios.