É, talvez, desconcertante, mas é um facto: a nudez continua a ser um signo revelador das convulsões do espaço mediático.
Sobre a primeira imagem (MDNA Tour), vozes muito sérias e bem intencionadas acharam por bem reabrir alguns graves dossiers morais:
— sobre o facto de Madonna se "despir";
— sobre o facto de fazer o que faz com "54 anos" de idade;
— enfim, sobre o facto de se "atrever" a convocar o nome de um candidato à Presidência dos EUA.
Sobre a segunda imagem (Casa dos Segredos):
— ... continuamos à espera que essas e outras vozes (em especial da cena político-partidária) nos digam alguma coisa sobre o modo como encaram a pavorosa degradação populista que continua a triunfar no espaço televisivo.
* * * * *
Deixemo-nos de tretas: não se espera que Madonna seja um factor de união (aliás, ela sempre foi o exacto oposto de qualquer unanimismo, pelo menos desde a explosão mediática que constituiu a sua performance de Like a Virgin, nos Prémios MTV de 1984...).
A proclamada agitação em torno da "nudez" não passa de um pretexto para contornar a questão mais radical: no espaço do entertainment, cada exposição pública dos respectivos protagonistas envolve sempre algum tipo de entendimento sobre as próprias linguagens convocadas. Daí que as diferenças contem:
A proclamada agitação em torno da "nudez" não passa de um pretexto para contornar a questão mais radical: no espaço do entertainment, cada exposição pública dos respectivos protagonistas envolve sempre algum tipo de entendimento sobre as próprias linguagens convocadas. Daí que as diferenças contem:
— Madonna recusa o lugar-comum pueril e moralista, segundo o qual o corpo é um elemento "natural"; bem pelo contrário: tudo é signo, tudo é escrita.
— em programas como "Casa dos Segredos", cada personagem é instrumentalizada até ao metódico esvaziamento de qualquer centelha de humanidade: a sua mensagem "festiva" não passa da máscara demagógica do mais rasteiro niilismo consumista.