Ao contrário de Hergé, e tal como sucede com as personagens criadas por Jacques Martin (de Alix a Loïs), as figuras de Blake & Mortimer continuam a ter uma existência viva, hoje até com maior regularidade que nos tempos em que Edgar P. Jacobs (1904-1987), o criador das personagens, ia revelando as suas sucessivas (e marcantes) aventuras.
Editado em finais de 2012, O Juramento dos Cinco Lords é já o 15º título da série (alguns tiveram mais que um volume), sendo que destes apenas os oito primeiros foram criados por Jacobs, queixou inclusivamente inacabado As 3 Fórmulas do Professor Sato. O livro é assinado pela dupla Yves Sente / André Juillard que antes já trabalhara em A Conspiração Voronov (2000), Os Sarcófagos do Sexto Continente (2003) e o Santuário de Gondwana (2008). Tal como sucedera n’Os Sarcófagos do Sexto Continente, Sente e Juillard abrem aqui uma janela no passado das vidas dos dois protagonistas, desta vez focando em concreto memórias de Francis Blake. E é no quadro dessas memórias que se cruza a figura (real) de Lawrence da Arábia – e é a primeira vez que uma figura real habita estas histórias -, o seu fato cerimonial que integra as coleções do Ashmolean Museum (em Oxford) surgindo assim como uma das peças numa trama que, na verdade, se revela como uma das mais sólidas do legado pós-Jacobs de Blake & Mortimer. Talvez apenas “esquecendo” o elemento sci-fi, tão central à alma das aventuras destes dois heróis maiores da BD franco belga. Nota apenas menos entusiasmada para o desenho de Juillard que, mesmo fiel às ideias de Jacobs, carece da sua profundidade e maior detalhe.