B Fachada, Minta e João Correia
“Os Sobreviventes”
dist. Mbari
4 / 5
Antecedido por um EP em 1971, que lhe serviu de cartão-de-visita, o álbum Os Sobreviventes assinalou em 1972 a estreia em álbum de Sérgio Godinho. Gravado em França, no Chateau d’Hérouville e contando, entre outras, com a colaboração de José Mário Branco (em cujo álbum de estreia Sérgio Godinho também havia colaborado, entre ambos de resto sendo partilhadas duas visões distintas para O Charlatão), Os Sobreviventes afirmou desde logo a visão de uma voz autoral. Mas, por determinante que seja o ponto de vista sobre o tempo político vivido no país (cantado à distância, já que o músico se encontrava exilado desde finais dos anos 60), Os Sobreviventes está longe de se esgotar no espaço da canção política. Pelo contrário, é um disco que desde logo lança bem claras as quatro grandes linhas que ainda hoje comandam a sua escrita, juntando às canções com ângulo mais político outras que falam de amor, que descrevem figuras e figurões e ainda outras essencialmente vivenciais. Quarenta anos depois, é curioso notar a atualidade de alguns olhares mais críticos que Godinho ali registou, pelo que o reencontro reinventado com estas canções por B Fachada, Minta e João Correia não se limita a ser uma evocação da memória da história da nossa música, mas também uma forma de, com palavras antigas, agir nos tempos modernos. Esta é contudo uma história que não nasce aqui. B Fachada já cantara Sérgio Godinho numa canção sua e chegou a levá-lo ao palco. E Minta colaborou no mais recente álbum do músico. Agora, depois do desafio lançado, os três propõem uma visão pessoal sobre o alinhamento de Os Sobreviventes, que assim reinventam de fio a pavio. Tal como era “livre” na forma de abordar vários caminhos musicais possíveis há 40 anos (caminhando entre o relacionamento mais íntimo da voz e das cordas de uma guitarra no Romance de Um Dia Na Estrada à assimilação de ecos da cultura rock em Maré Alta), Os Sobreviventes de 2012 é novamente um desafio às formas e normas. As canções são escutadas e transformadas, moldadas a novos olhares, do exercício da reinterpretação nascendo um ponto de vista criado a três (se bem que sob um protagonismo maior de B Fachada). Sem fazer dos originais um santo de altar nem da linguagem musical de Sérgio Godinho na época um cânone, este regresso a’Os Sobreviventes volta a sublinhar princípios que conduziram a construção do álbum editado em 1972 mas firma uma visão que faz dele uma peça também de 2012 e que não depende apenas do elemento memória para justificar a sua pertinência.