Nos últimos dias, notícias, promoções e mails, sempre muitos mails (desses que iludem todos os filtros de spams), foram-nos avisando das mais diversas comemorações lusitanas do Halloween... Desde bandas de quintal (falta-lhes garagem) até aos mais bem dispostos disparates de desanimação cultural, todos nos garantiam que o "Dia das Bruxas" ia ficar para a história.
Nada contra a tradição. Já agora: também nada contra o magnífico filme de John Carpenter, Halloween (1978), independentemente das suas mais ou menos desastradas sequelas.
Acontece que vivemos num país chamado Portugal em que se confunde o desenvolvimento da economia com a supressão de feriados. Mais ainda: um país em que o anti-americanismo primário há muito integra a paisagem quotidiana, a ponto de ser de bom tom, por exemplo em relação a filmes, convocar a ideia (?) de "americanada" para, de um só golpe, rasurar todas as coisas fascinantes que o cinema americano sempre gerou e continua a gerar... Ora, é num país assim que, subitamente, nos querem impingir um Halloween muito made in USA como elemento "natural" dos nossos usos e costumes.
Sabemos que vivemos num mundo global, sem dúvida. Sabemos também que as fronteiras culturais e simbólicas todos os dias se deslocam, muitas vezes enriquecendo o nosso conhecimento e as nossas vivências. Mas esta hiper-comercialização do Halloween é um fenómeno de outra dimensão: envolve uma visão gratuita dos símbolos de uma comunidade, ao mesmo tempo que favorece o mais pitoresco esvaziamento cultural. Be afraid.
>>> Sobre o Halloween: canal História.