domingo, novembro 11, 2012

A 'tempestade' reinventada


Talvez seja ainda cedo para chamarmos a Thomas Adès o “novo Britten”... É inglês, sim. Tem já duas óperas (absolutamente magníficas), sim. Mas demos-lhe tempo para saber qual será o seu caminho e se, como o seu compatriota, na ópera encontrará um dos mais marcantes dos seus espaços de expressão (sendo que tanto na música orquestral como de câmara Adès tem assinado peças absolutamente espantosas que dele fazem, sem favor, uma das mais interessantes vozes autorais da sua geração)...

Bem distinta da algo satírica Powder Her Face, a segunda ópera de Adès The Tempest é já, seguramente, um dos marcos da música do século XXI, reinventando sob novos ângulos de abordagem, numa música vibrante e atual (mas plena de um sentido “clacissista” herdeiro de importantes ecos de um lirismo de outros tempos), uma antiga peça de William Shakespeare (que o libreto de Meredith Oakes explora, procurando condensar a essência da sua narrativa).

A nova produção de The Tempest, assinada por Robert Lepage, foi ontem transmitida em direto do Met em mais um dos momentos da temporada que, com tecnologia HD, assim chega a salas de todo o mundo (entre nós o Grande Auditório da Gulbenkian). Lepage já assinou por várias ocasiões a peça de Shakespeare e optou por projetar a ação nos espaços de um teatro de ópera (o La Scala , de Milão), sem que tal representasse contudo uma ideia de ópera dentro da ópera. O cruzamento de épocas que a música sugere, sobretudo a assinatura lírica que percorre o segundo e terceiro atos, acaba assim vincado pelas formas da cenografia e dos figurinos, a noção de tempo – e importa não esquecer o texto de Shakespeare na sua origem - diluindo-se assim frente aos nossos olhos.

Simon Keenlyside retomou o papel de Prospero que foi seu quando a ópera estreou em Covent Garden em 2004 (e cuja versão com esse mesmo elenco está editada pela EMI Classics). O exigente papel de Ariel coube a uma magnífica Audrey Luna. Ambos evidenciaram-se num conjunto de grande solidez, sob a direção do próprio Adès, que só mostrou algum desconforto nos breves minutos de uma entrevista ao vivo e em direto a breves instantes de dar início ao terceiro ato.

PS. Eis mais uma produção a justificar, em pleno, oportuno lançamento em Blu-ray.