Para acabar a saga Twilight, confirmam-se as piores previsões decorrentes dos episódios anteriores: o marketing impõe o seu vazio criativo — este texto foi publicado no Diário de Notícias (15 Novembro), com o título 'O marketing não conta histórias'.
Será que ainda estamos a falar de cinema? Quando o crítico de cinema é convocado para comentar um objecto como A Saga Twilight: Amanhecer Parte 2, será que é possível falar de cinema? São perguntas que se justificam por razões, antes de tudo o mais, de natureza... cinematográfica. Ou seja: que cinema há para falar a propósito de Twilight?
Muito pouco. Quase nada. Importa recordar que a Parte 1 deste Amanhecer tinha desembocado na gravidez da muito terrena Bella Swan (Kristen Stewart), resultante da sua relação com o vampiro Edward Cullen (Roger Pattinson). E é, no mínimo, desconcertante (embora apeteça dizer: chocante) que a indigência narrativa desta Parte 2 consiga gastar quase duas horas do precioso tempo do espectador sem que haja qualquer progressão dramática que se veja. A incapacidade de aplicar a velhíssima e muito respeitável arte de contar histórias vai ao ponto de se gastar uma boa meia hora de confusão, com lobos aos saltos e muitas cabeças cortadas, para no final, em tom de triunfante displicência, alguém dizer qualquer coisa como: “Deixa lá, isto eras só tu a imaginar coisas...”
De facto, a noção de franchise não é, em si mesmo, um dado negativo: sabemos que, desde as comédias mudas de Mack Sennett até à odisseia espacial dos monstros de Alien, a “série” constitui um elemento fundamental, económico e espectacular, da mais nobre tradição cinematográfica. Acontece que, em casos como Twilight, se chegou ao esvaziamento de qualquer gosto pelas imagens (e pelos sons!), triunfando apenas uma lógica de reprodução pela reprodução, enraizada nos conceitos mais primários de marketing. Os resultados são tanto mais deprimentes quanto Twilight começou, em 2008, com um belo e romântico filme dirigido por Catherine Hardwicke.