segunda-feira, outubro 15, 2012

Sátira política regressa ao pequeno ecrã


O espaço da sátira política em espaço televisivo tem uma bela expressão de boas ideias em Veep, criação já deste ano de Armando Lannucci que na verdade surge na sequência de The Thick of It, criada com os espaços do governo britânico como palco dos acontecimentos. Herdeiras, no fundo, de um espaço de sátira que conhece no histórico Yes Minister uma referência incontornável, estas criações promovem um olhar crítico e humorístico dos bastidores dos escritórios onde mora o poder.

Veep leva este modelo de paródia ao gabinete da Vice Presidente dos EUA. Sim, uma mulher (interpretada por Julia Louis-Dreyfus), facto que estabelece eventuais ligações à memória de Sarah Palin, a candidata que partilhou em 2008 o ticket com John McCain, sem que contudo a narrativa a coloque num plano ideológico semelhante. Mas, apesar de visitar no primeiro episódio uma senadora que fisicamente dá ares de uma Hillary Clinton (não o sendo, de todo!) e com a qual se desentende, de apresentar um discurso tão vazio como eram alguns dos solilóquios sem conteúdo da campanha de Palin, a VP (daí o título, “veep”, o seja, a leitura das iniciais de vice-presidente) desta série em pouco tempo ganha vida própria. E mais que uma eventual visão humorística de alguém, propõe antes um olhar impiedoso sobre as dinâmicas de bastidores. Uma espécie de versão tresloucada do frenesi de acontecimentos que vimos num West Wing, porém numa sucessão de ciclos de gafes, de asneiras e de tentativas de as contornar, de equívocos...

Senadora há alguns anos, antes de se tornar VP, a protagonista é uma política de carreira sem aparentes ideias nem soluções. Apenas um cargo. E, como diz a cada visita que recebe no seu gabinete, com uma bandeira sua... A Casa Branca existe do outro lado da rua, ocupada por um Presidente que não surge em cena, não telefona, enviando recados por um oficial de ligação no registo vaidoso (porque, ao contrário dos que habitam o gabinete da VP, ele vê o Presidente) e “insuportável”. Perfeitamente justificada, portanto, chuva de nomeações e prémios nos Emmys deste ano.