Why?
“Mumps, etc.”
Anticon / Popstock
2 / 5
“Mumps, etc.”
Anticon / Popstock
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A aventura começou em 2004, dando uma voz a um dos fundadores da Anticon (um dos mais estimulantes laboratórios de invenção de novos caminhos e recontextualizações de referências, formas e linguagens de genética hip hop). Como Why? Yoni (na verdade chama-se Jonathan) Wolf encontrou uma voz que, segundo caminhos com afinidade aos que a Anticon foi trilhando, partiram do hip hop para assimilar elementos do mundo ao seu redor, das suas experiências pessoais e das outras músicas que cruzam o seu espaço. Começou por somar experiências e ideias, entre Elephant Eyelash (2005) e Alopecia (2008) trabalhando a voz, a escrita e a busca de cenografias estimulantes. O belíssimo álbum de 2008 sendo, de resto, juntamente com a obra-prima da editora – o álbum Ten (2004) dos Clouddead, trio que integra o próprio Yoni – uma das referências centrais do catálogio da Anticon. E a seguir entra em cena um processo de depuração de idelas (e de elementos no espaço cénico das composições). Em 2009 mostra em Eskimo Snow uma aproximação clara aos universos pop/rock de alma indie, deixando o rap na gaveta. Agora, em Mumps, etc, faz quase o contrário. Recupera o rap, reduz significativamente os espaços de vocalização mais “convencional” (leia-se: canto), mas face aos dois álbuns anteriores a Eskimo Snow propõe uma visão mais contida da composição, optando pela criação de espaços que, mesmo longe de ser coisa minimalista, mostram uma política de poupança de elementos face aos quadros que outrora apresentara, a produção revelando também outro primor no polimento das linhas e formas (que abafa todavia o mundo de acontecimentos que enriquecia a experiência). Mas é no departamento das palavras que o disco tropeça. Não só a presença vocal é impositiva (não seguindo a mesma lógica amiga do espaço que a música revela) como acabamos por sentir, faixa após faixa, que Yoni fala muito para na verdade pouco nos dizer (ou então sou eu que estou noutro comprimento de onda...). Há reflexões, observações, muito “eu” e mais “eu”, mas muitos dos momentos acabam verbalmente inconsequentes. Não é ao metro que se medem as palavras. E num disco onde Yoni confirma sinais de busca, por depuração, de um caminho pessoal, o projeto Why? só teria a ganhar se aplicasse semelhante lógica ao que escreve.