quarta-feira, outubro 10, 2012

Novas edições:
Purity Ring, Shrines


Purity Ring
“Shrines”
4 AD / Popstock
3 / 5

Num tempo em que as electrónicas parecem estar a alimentar mais ideias que as guitarras na linha da frente da invenção indie, a dupla canadiana Purity Ring é mais um nome a seguir com atenção. Já andam por aí há dois anos, quatro singles tendo servido de cartão de visita para um álbum que, por agora, fixa o retrato de uma primeira arrumação das suas ideias. Quem os viu em palco conhece o tom peculiar da sua performance. Ela, Megan James, de microfone na mão. Ele, Corin Roddick, entregue a maquinarias e efeitos que vai gerindo por entre uma espécie de árvore elétrica. Minimalistas nos recursos, as canções apostam na voz como elemento condutor dos acontecimentos, às electrónicas cabendo a sugestão ténue de um horizonte onde tudo ganha forma. É aí que entram em cena texturas, pedaços de acontecimentos samplados e reconstruídos, usados e repetidos como quem pincela os fundos de uma tela, criando cenografias mais feitas de fragmentos (frequentemente habitados por silêncios) que de lógicas de continuidade. O protagonismo de uma voz frágil e aguda, assim como o registo das electrónicas empregue nas sugestões de melodismo e até mesmo os pequenos sons com que vão aspergindo sobre o espaço onde evoluem as canções, traçam ocasionalmente eventuais afinidades com o recente Visions, de Grimes (igualmente canadiana), porém sem a mesma clareza pop nem o interesse pelas estruturas rítmicas mais bem definidas que ouvimos nesse seu disco de 2012. As canções são aqui amálgamas de acontecimentos, as próprias palavras juntando-se e perdendo-se entre si como as teias de sons para sugerir um corpo novo, onde os elementos buscam claramente a expressão de uma identidade. Porém, e apesar dos momentos magníficos que propõem em canções como Fineshrine, Cartographist ou Obedear, Shrines está longe de ser um destino encontrado, antes um trabalho em curso que cativa atenções e nos obriga a estar atentos ao que poderá chegar a seguir. Encontraram uma ideia e a sua expressão sonora e até mesmo um patamar emocional que sugere um clima. Mas falta-lhes ainda o sentido mais apurado de composição e o saber sonoplasta que fez de Silent Shout, dos suecos The Knife, um marco na história recente das electrónicas ao serviço da canção.