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Depois de 17 anos à frente da LA Philharmonic e numa altura em que é um dos maestros (e consultor da londrina Philharmonia Orchestra), Esa Pekka Salonen centra atenções no seu trabalho como compositor. Out of Nowhere é, no mínimo, uma estreia promissora para o primeiro disco do resto da sua vida.
Poucos grandes compositores cuja vida profissional foi necessariamente partilhada com uma agenda como maestro conseguiram gerir o tempo de forma a permitir igual dedicação (e, afinal, a condução de bons resultados) a ambas as facetas do seu trabalho. Gustav Mahler é um exemplo claro de uma rara disciplina, os verões passados no campo com atenções focadas na sua escrita contrastando com as meias-estações e invernos, vividos em Viena, sob total imersão num mapa de trabalho completamente diferente. Leonard Bernstein foi em tempos mais reconhecido enquanto maestro que compositor, o tempo estando aos poucos a dar às suas obras outra (merecida notoriedade), sublinhando contudo o volume discreto de obras que assinou os sinais de uma vida em grande parte dedicada às orquestras, às plateias e a espaços de divulgação que só raras vezes faziam da sua música a ementa protagonista. Já Thomas Adès está a saber gerir mais cuidadosamente o seu plano de trabalhos, a sua própria discografia e agenda de atuações mostrando quão central acaba por ser a sua própria música nesses momentos em que grava ou atua frente a plateias.
Aos 58 anos o maestro e compositor finlandês Esa-Pekka Salonen é já um veterano. Durante 17 anos, entre 1992 e 2009, dirigiu a Los Angeles Philharmonic. E fez estreias mundiais para obras de nomes como John Adams, John Corrigliano, Louis Andriessen, Arvo Pärt ou Kaija Saariaho. Há três anos, na mesma altura em que cedia a Gustavo Dudamel a batuta no Walt Disney Concert Hall (sede da LA Philharmonic), estreava aquela que é já reconhecida como uma das peças centrais da sua obra como compositor: um concerto para violino que teve na figura da solista Leila Josefowicz que, explica Salonen no seu próprio site, “toca música nova com a mesma dedicação e panache que muitos outros reservam para Brahms, Beethoven e o resto do gang”... Depois de ter passado a fasquia dos 50, Salonen decidiu que ia dedicar mais tempo à composição, neste Concerto para Violino tendo focado experiências acumuladas e, ao mesmo tempo, lançando (sobretudo no andamento final) pistas para um futuro para o qual diz que parte “com as emoções e os medos com que se enfrenta o desconhecido”. Dividido em quatro andamentos, o concerto abre com um primeiro (Mirage) que destaca claramente a presença (incansável) do violino, a orquestra ganhando espaço e maior visibilidade adiante num segundo (Pulse I) feito das dúvidas que assaltam a solidão noturna, um terceiro (Pulse II) mais urbano, vibrando com uma pulsação de quem conhece os ritmos da vida na era da cultura rock e um terceiro (Adieu), que volta a lançar questões, como quem num momento de despedida prefere antes encarar o desconhecido que o tempo lhe reserva pela frente. Nesta gravação, que a mesma solista que estreou esta obra interpreta, mas desta vez com a Finnish Radio Symphony Orchestra, o “programa” inclui ainda a belíssima Nyx, peça orquestral de 18 minutos que, sem os destacar como solistas, valoriza sobretudo os trabalhos do clarinete e outros metais. Apesar do título sugerir algo que vem do nada, a música de Salonen tem relações evidentes com uma linha atual de obras e compositores que acreditam num retorno à tonalidade mas sem que tal implique um retomar das linhas orquestrais características quer do romantismo quer de tendências que marcaram o aflorar da modernidade na alvorada do século XX. Em boa hora Salonen resolveu dar espaço à sua música.